Num diálogo franco
com a Poesia, Pozzi tece uma paisagem simbólica do deperecimento do espaço
sagrado que com ela mantinha até então, dirigindo-lhe um apelo para que volte a
ser sua guia, ajudando-a a recuperar sua autenticidade e conexão com o sublime
e o elevado: trata-se, sob tal contexto, de uma súplica por redenção e
renovação, a externar um desejo de reconciliação com a sua própria voz poética.
O leitor pode
perceber o tom geral de confissão e de arrependimento infundido pela poetisa
aos versos, como se estivesse a assumir os seus pecados, buscando redimir-se perante
a Poesia, nela distinguindo uma espécie de força transcendental com o poder
para lhe curar a alma – um bálsamo eficaz para todos os pesares.
J.A.R. – H.C.
Antonia Pozzi
(1912-1938)
Preghiera alla Poesia
Oh, tu bene mi pesi
l’anima, poesia:
tu sai se io manco e
mi perdo,
tu che allora ti
neghi
e taci.
Poesia, mi confesso
con te
che sei la mia voce
profonda:
tu lo sai,
tu lo sai che ho
tradito,
ho camminato sul
prato d’oro
che fu mio cuore,
ho rotto l’erba,
rovinata la terra –
poesia – quella terra
dove tu mi dicesti il
più dolce
di tutti i tuoi
canti,
dove un mattino per
la prima volta
vidi volar nel sereno
l’allodola
e con gli occhi
cercai di salire –
Poesia, poesia che
rimani
il mio profondo
rimorso,
oh aiutami tu a
ritrovare
il mio alto paese
abbandonato –
Poesia che ti doni
soltanto
a chi con occhi di
pianto
si cerca –
oh rifammi tu degna
di te,
poesia che mi guardi.
Pasturo, 23 agosto
1934
Rumores da Terra
(Wifredo Lam: pintor
cubano)
Oração à Poesia
Ó, tu bem me pesas
a alma, poesia:
tu sabes se falto e
me perco,
tu que agora te negas
e te calas.
Poesia, eu confesso a
ti
que és minha voz
profunda:
tu o sabes,
tu sabes que traí,
caminhei no prado de
ouro
que fora meu coração,
rompi a relva,
arruinada a terra –
poesia – aquela terra
onde tu me disseras o
mais doce
de todos os teus
cantos,
onde uma manhã pela
primeira vez
vira voar no sereno a
cotovia
e com os olhos
tentara subir –
Poesia, poesia que
conservas
meu profundo remorso,
ó, ajuda-me tu a
reencontrar
meu alto país
abandonado –
Poesia que te
entregas somente
a quem com olhos de
pranto
se busca –
ó, refaz-me tu digna
de ti,
poesia que me
guardas.
Pasturo, 23 de agosto
de 1934
Referência:
POZZI, Antonia. Preghiera
alla poesia / Oração à poesia. Tradução de Camila Vicentini Camargo e Cláudia
Tavares. (n.t.) Revista Nota do Tradutor, n. 23, vol. especial, 2021; em
italiano: p. 290-291; em português: p. 296-297. Disponível neste endereço. Acesso em: 23 jul.
2024.
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