A memória pessoal –
em conexão com a história mais ampla de uma nação, a Irlanda, terra-mãe da
poetisa –, aqui se espelha em detalhes, ‘prima facie’, aparentemente desconexos,
mas que traduzem uma experiência de frescura e de regeneração, digo melhor, certa
elegância discreta e austera em meio à vida rural ou tradicional.
A mente é o ‘locus’
da guarda imperfeita de nossas recordações, tantas vezes entrelaçadas por associações
ou conexões que, vezes sem conta, não fazem jus aos fatos tal como estes realmente
aconteceram, muito embora possam constituir narrativas plenas de sentidos para
as nossas experiências a cada momento.
O individual e o
coletivo se mesclam para dar ênfase à ideia de pertencimento a um povo: belas nostalgias
que carregam imagens quiçá idealizadas, as quais, seja como for, são potentes
meios para a falante firmar a sua feminilidade e identidade.
J.A.R. – H.C.
Medbh McGuckian
(n. 1950)
Slips
The studied poverty
of a moon roof,
The earthenware of
dairies cooled by apple trees,
The apple tree that
makes the whitest wash...
But I forget names,
remembering them wrongly
Where they touch upon
another name,
A town in France like
a woman’s Christian name.
My childhood is
preserved as a nation’s history,
My favourite
fairytales the shells
Leased by the hermit
crab.
I see my grandmother’s
death as a piece of ice,
My mother’s slimness
restored to her,
My own key slotted in
your door –
Tricks you might
guess from this unfastened button,
A pen mislaid, a word
misread,
my hair coming down
in the middle of a conversation.
(1982)
Mulher e menina à
porta de entrada
(August Eiebakke:
pintor norueguês)
Lapsos
A estudada pobreza de
um teto panorâmico,
As cerâmicas de
laticínios resfriadas junto às macieiras,
A macieira que torna
mais branca a caiação...
Mas esqueço-me dos
nomes, deles mal me lembrando
Quando se confundem
com outro nome,
Uma cidade em França
como o nome de batismo
de uma mulher.
Minha infância está
preservada como a história
de uma nação,
Meus contos de fadas
favoritos feito conchas
Arrendadas pelo caranguejo-ermitão.
Vejo a morte da minha
avó como um pedaço de gelo,
A esguiez de minha
mãe a ela restituída,
Minha própria chave inserida
em tua porta.
Truques que podes
adivinhar a partir deste botão aberto,
Uma caneta
extraviada, uma palavra mal lida,
Meus cabelos a
desprender no meio de uma conversa.
(1982)
Referência:
McGUCKIAN, Medbh. Slips.
In: BLACK, Joseph Laurence et alii (Eds.). The broadview anthology of
british literature. The twentieth century and beyond: volume 6B, from 1945
to the twenty-first century. Toronto, CA: Broadview Press, 2008. p. 1049.
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