Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Gabriele d’Annunzio - A Chuva no Pinheiral

Num cenário de chuva sobre um verdejante bosque de pinheiros, o falante captura o murmurante e característico som das gotas sobre as frondes, em interação com outros ruídos da natureza – como o canto das cigarras –, gerando uma rica atmosfera musical e auditiva, afora a sensação de refrescamento e de renovo sobre os outros elementos da natureza, bem assim sobre o estado de ânimo dos amantes, que a tudo observam.

 

Com efeito, a chuva atua como um meio de purificação e de regeneração, provendo a conjunção sob a qual se dá o ledo êxtase do falante e de sua amada, de imediato integrados a uma “vida arbórea”, teluricamente fundeados no sítio terrestre, como se personagens intervenientes de um conto de fadas, enleados à medula pela mística de Pã, pois que demais fundidos ao ambiente à volta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Gabriele d’Annunzio

(1863-1938)

 

La Pioggia nel Pineto

 

Taci. Su le soglie

del bosco non odo

parole che dici

umane; ma odo

parole più nuove

che parlano gocciole e foglie

lontane.

Ascolta. Piove

dalle nuvole sparse.

Piove su le tamerici

salmastre ed arse,

piove su i pini

scagliosi ed irti,

piove su i mirti

divini,

su le ginestre fulgenti

di fiori accolti,

su i ginepri folti

di coccole aulenti

piove su i nostri volti

silvani,

piove su le nostre mani

ignude,

su i nostri vestimenti

leggieri,

su i freschi pensieri

che l’anima schiude

novella,

su la favola bella

che ieri

t’illuse, che oggi m’illude,

o Ermïone.

 

Odi? La pioggia cade

su la solitaria

verdura

con un crepitìo che dura

e varia nell’aria

secondo le fronde

più rade, men rade.

Ascolta. Risponde

al pianto il canto

delle cicale

che il pianto australe

non impaura,

nè il ciel cinerino.

E il pino

ha un suono, e il mirto

altro suono, e il ginepro

altro ancòra, stromenti

diversi

sotto innumerevoli dita.

E immersi

noi siam nello spirto

silvestre,

d’arborëa vita viventi;

e il tuo volto ebro

è molle di pioggia

come una foglia,

e le tue chiome

auliscono come

le chiare ginestre,

o creatura terrestre

che hai nome

Ermïone.

 

Ascolta, ascolta. L’accordo

delle aeree cicale

a poco a poco

più sordo

si fa sotto il pianto

che cresce;

ma un canto vi si mesce

più roco

che di laggiù sale,

dall’umida ombra remota.

Più sordo e più fioco

s’allenta, si spegne.

Sola una nota

ancora trema, si spegne,

risorge, trema, si spegne.

Non s’ode voce del mare.

Or s’ode su tutta la fronda

crosciare

l’argentëa pioggia

che monda,

il croscio che varia

secondo la fronda

più folta, men folta.

Ascolta.

La figlia dell’aria

è muta; ma la figlia

del limo lontana,

la rana,

canta nell’ombra più fonda,

chi sa dove, chi sa dove!

E piove su le tue ciglia,

Ermïone.

 

Piove su le tue ciglia nere

sì che par tu pianga

ma di piacere; non bianca

ma quasi fatta virente,

par da scorza tu esca.

E tutta la vita è in noi fresca

aulente,

il cuor nel petto è come pèsca

intatta,

tra le pàlpebre gli occhi

son come polle tra l’erbe,

i denti negli alvèoli

son come mandorle acerbe.

E andiam di fratta in fratta,

or congiunti or disciolti

(e il verde vigor rude

ci allaccia i mallèoli

c’intrica i ginocchi)

chi sa dove, chi sa dove!

E piove su i nostri volti

silvani,

piove su le nostre mani

ignude,

su i nostri vestimenti

leggieri

su i freschi pensieri

che l’anima schiude

novella,

su la favola bela

che ieri

m’illuse, che oggi t’illude,

o Ermïone.

 

In: “Laudi dell’Alcyone” (1904)

 

Pinheiral depois da chuva

(Dmitry Kustanovich: artista bielorrusso)

 

A Chuva no Pinheiral

 

Silencia. Sobre as lindes

do bosque não ouço as

palavras que dizes

humanas; mas ouço

palavras mais novas

que falam sobre gotas e folhas

distantes.

Escuta. Chove

de nuvens esparsas.

Chove sobre as tamargueiras

salobras e ressequidas,

chove sobre os pinheiros

escamosos e cerdosos,

chove sobre os divinos

mirtos,

sobre as giestas fulgentes

de flores em racimos,

sobre os zimbros espessos

de bagas fragrantes,

chove sobre nossos rostos

silvestres,

chove sobre nossas mãos

desnudas,

sobre as nossas vestes

leves,

sobre os tenros pensamentos

que a alma renovada

esmera-se em transluzir,

sobre a bela fábula

que ontem

te iludiu e que hoje me ilude,

ó Hermíone.

 

Ouves? A chuva cai

sobre o solitário

verdor

com uma crepitar insistente

que se altera no ar

conforme sejam as frondes

mais ou menos dispersas.

Escuta. Responde

ao pranto o canto

das cigarras

sem se deixar sobressaltar

pelo lamento austral,

tampouco pelo céu cinzento.

E o pinheiro

tem um som, o mirto

outro som e o zimbro

outro ainda, instrumentos

diversos,

tangidos por inumeráveis dedos.

E imersos

estamos no espírito

silvestre,

viventes de uma arbórea vida;

e o teu rosto inebriado

está molhado de chuva

como uma folha,

e os teus cabelos

recendem como

as claras giestas,

ó criatura terrestre

que tens por nome

Hermíone.

 

Escuta, escuta. O acorde

das aéreas cigarras

pouco a pouco

mais surdo

se torna sob o pranto

que cresce;

mas se mescla a ele um canto

mais rouco

que de mais longe sobe,

da úmida sombra remota.

Mais surdo e mais tênue

atenua-se, apaga-se.

Só uma nota

ainda vibra, apaga-se,

ressurge, vibra, apaga-se.

Não se ouve a voz do mar.

Agora se ouve sobre toda a fronde

rumorejar

a chuva argêntea

que purifica,

o rumorejo que varia

conforme seja a fronde

mais ou menos densa.

Escuta.

A filha do ar

está muda; mas a filha

distante do limo,

a rã,

canta na sombra mais funda,

quem sabe onde, quem sabe onde!

E chove sobre teus cílios,

Hermíone.

 

Chove sobre teus cílios negros

De modo que parece que choras

mas de prazer; não branca

mas quase que verdejante,

como se saída de uma casca.

E toda a vida é fresca em nós,

fragrante,

o coração no peito é como um pêssego

intocado,

entre as pálpebras os olhos

são como mananciais em meio à relva,

os dentes nos alvéolos

são como amêndoas não maduras.

E vagueamos de bosque em bosque,

ora juntos ora separados

(e o rude vigor verde

enlaça-nos os maléolos

enreda-nos os joelhos)

quem sabe onde, quem sabe onde!

E chove sobre nossos rostos

silvestres,

chove sobre nossas mãos

desnudas,

sobre as nossas vestes

leves,

sobre os tenros pensamentos

que a alma renovada

esmera-se em transluzir,

sobre a bela fábula

que ontem

me iludiu e que hoje te ilude,

ó Hermíone.

 

Em: “Louvor a Alcíone” (1904)

 

Referência:

 

D’Annunzio, Gabriele. La pioggia nel pineto. In: PAYNE, Roberta l. (Ed. & Transl.). A selection of modern italian poetry in translation. A bilingual edition: italian x english. Montreal & Kingston (CA): McGill-Queen’s University Press, 2004. p. 18, 20, 22, 24 and 26.

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