Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Mário Chamie - Espaço inaugural

Vogando pelas águas do tempo, do espaço, da memória e da incessante luta humana, entre crises e surpresas, o poeta põe em destaque a capacidade que temos para criar e enfrentar novos desafios, levando conosco uma “fúria” silenciosa herdada de tempos pregressos, torvelinhos de emoções e lutas internas, nem sempre expressas de modo palpável.

 

O poeta retrata o homem como alguém confinado na teia de um espaço sem tempo, onde cada rincão parece carecer de temporalidade, como se estivesse isolado de uma noção contínua de tempo: é que, enquanto o espaço pode ser quantificado e sofrer mudanças ainda assim mensuráveis, o tempo, perdido na memória, dissolve-se na subjetividade, sendo mais difícil de se aquilatar com fidedignidade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mário Chamie

(1933-2011)

 

Espaço Inaugural

 

O espaço que se mede

e que se perde

não é o tempo perdido

da memória.

 

Esquece.

O tempo que se perde

é o mesmo que fenece

a cada hora.

 

Na hora do homem

em casa.

Na hora do homem

na rua.

Na hora do espanto

desse homem

sem tempo

no espaço de cada canto.

 

Mas o cansaço do tempo

que se perde

não impede o espaço

que se inaugura.

 

O espaço do homem

na praça.

O espaço do homem

em luta

com a fúria de outro tempo

: sua surda fúria muda.

 

Em: “Espaço Inaugural” (1955)

 

Espaço aberto

(Christophe Dessaigne: fotógrafo francês)

 

Referência:

 

CHAMIE, Mário. Espaço inaugural. In: JARDIM, Rubens (Ed.). A poesia nos anos sessenta. [São Paulo, SP]: Edição do autor, [2001]. p. 30. Livro eletrônico. Disponível neste endereço. Acesso em: 9 ago. 2024.

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