Vogando pelas águas
do tempo, do espaço, da memória e da incessante luta humana, entre crises e
surpresas, o poeta põe em destaque a capacidade que temos para criar e
enfrentar novos desafios, levando conosco uma “fúria” silenciosa herdada de
tempos pregressos, torvelinhos de emoções e lutas internas, nem sempre
expressas de modo palpável.
O poeta retrata o
homem como alguém confinado na teia de um espaço sem tempo, onde cada rincão
parece carecer de temporalidade, como se estivesse isolado de uma noção contínua
de tempo: é que, enquanto o espaço pode ser quantificado e sofrer mudanças
ainda assim mensuráveis, o tempo, perdido na memória, dissolve-se na subjetividade,
sendo mais difícil de se aquilatar com fidedignidade.
J.A.R. – H.C.
Mário Chamie
(1933-2011)
Espaço Inaugural
O espaço que se mede
e que se perde
não é o tempo perdido
da memória.
Esquece.
O tempo que se perde
é o mesmo que fenece
a cada hora.
Na hora do homem
em casa.
Na hora do homem
na rua.
Na hora do espanto
desse homem
sem tempo
no espaço de cada
canto.
Mas o cansaço do
tempo
que se perde
não impede o espaço
que se inaugura.
O espaço do homem
na praça.
O espaço do homem
em luta
com a fúria de outro
tempo
: sua surda fúria
muda.
Em: “Espaço Inaugural”
(1955)
Espaço aberto
(Christophe Dessaigne:
fotógrafo francês)
Referência:
CHAMIE, Mário. Espaço
inaugural. In: JARDIM, Rubens (Ed.). A poesia nos anos sessenta. [São
Paulo, SP]: Edição do autor, [2001]. p. 30. Livro eletrônico. Disponível neste
endereço. Acesso em: 9 ago. 2024.
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