Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Mario Quintana - Os poemas

Os poemas não são meras palavras declinadas numa folha de papel, senão uma expressão do próprio espírito humano, ou melhor, uma manifestação de seu poder de imaginação e de seu pasmo diante do mundo: como “pássaros” que são, alimentam-se da sensibilidade do poeta para, na outra margem de sua etérea existência, impactar e inspirar os leitores.

 

São como seres de natureza misteriosa e imprevisível, livres, ilimitados, incontidos, com existência própria e autonômica, que escolhem a seu talante onde e quando pousar, bem assim o momento oportuno e o lugar para onde migrar, eis que fazem parte de uma sazão, sempre em busca de novas experiências: esse atributo de surpresa e de indescritibilidade da poesia é o elemento catalisador a trazer o encanto, o maravilhamento para os nossos próprios mundos internos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mario Quintana

(1906-1994)

 

Os poemas

 

Os poemas são pássaros que chegam

não se sabe de onde e pousam

no livro que lês.

Quando fechas o livro, alçam voo

como de um alçapão.

Eles não têm pouso

nem porto

alimentam-se um instante em cada par de mãos

e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,

No maravilhado espanto de saberes

que o alimento deles já estava em ti...

 

Em: “Esconderijos do Tempo” (1980)

 

Pássaros escapando da gaiola

(Autoria não identificada)

 

Referência:

 

QUINTANA, Mario. Os poemas. In: __________. Quintana de bolso: Rua dos cataventos & Outros poemas. Seleção de Sergio Faraco. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015. p. 106. (Coleção ‘L&PM Pocket’; vol. 71)

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