Os poemas não são
meras palavras declinadas numa folha de papel, senão uma expressão do próprio
espírito humano, ou melhor, uma manifestação de seu poder de imaginação e de seu
pasmo diante do mundo: como “pássaros” que são, alimentam-se da sensibilidade do
poeta para, na outra margem de sua etérea existência, impactar e inspirar os
leitores.
São como seres de
natureza misteriosa e imprevisível, livres, ilimitados, incontidos, com existência
própria e autonômica, que escolhem a seu talante onde e quando pousar, bem
assim o momento oportuno e o lugar para onde migrar, eis que fazem parte de uma
sazão, sempre em busca de novas experiências: esse atributo de surpresa e de
indescritibilidade da poesia é o elemento catalisador a trazer o encanto, o
maravilhamento para os nossos próprios mundos internos.
J.A.R. – H.C.
Mario Quintana
(1906-1994)
Os poemas
Os poemas são
pássaros que chegam
não se sabe de onde e
pousam
no livro que lês.
Quando fechas o
livro, alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um
instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas
tuas mãos vazias,
No maravilhado
espanto de saberes
que o alimento deles
já estava em ti...
Em: “Esconderijos do
Tempo” (1980)
Pássaros escapando da
gaiola
(Autoria não
identificada)
Referência:
QUINTANA, Mario. Os
poemas. In: __________. Quintana de bolso: Rua dos cataventos &
Outros poemas. Seleção de Sergio Faraco. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015. p.
106. (Coleção ‘L&PM Pocket’; vol. 71)
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