O poeta externa ao
leitor a sua íntima relação com a fé e a espiritualidade, revelando-nos uma conexão
profunda com um Deus vivo, junto a quem experimenta um convívio pleno de significados
pessoais, reverenciadores do amor e da solidariedade entre os seres humanos, em
especial na luta contra a fome, a miséria e o sofrimento.
O falante rejeita a
visão de um Cristo estático, desvinculado da vida cotidiana, e o concebe como
uma fonte de inspiração que fomenta práticas orientadas pelo Espírito e pelo
amor. Disso resultam versos a dizerem respeito à sua intensa jornada hierática,
em linha com as realidades e as fainas diuturnas, um verdadeiro chamado à
fraternidade em prol de um mundo melhor, a permear, a mais não poder, a própria
identidade do poeta, enquanto peruano em solo espanhol.
J.A.R. – H.C.
(n. 1962)
Por el Dios vivo que llevo dentro
Para Samuel Escobar
Nada sino este Dios vivo que me llena
con sus lágrimas cayendo
cual palomas dentro de mi carne amplificada
hasta picotear las vértebras del alma
donde cobijo los cantos rodados
del Pastor que sopla la zarza
hasta el tuétano de mis noches
o días rugientes: el fuego está en el agua;
el aire surca la tierra
y yo fijo los ojos en el porvenir
que no está empapado de cielos preciosos
sino de amor humano desviviéndose
por el sueño común de espantar miserias
a ras del hambre de los hombres,
hombro con hombro por la chabola infeliz
donde silenciosos gritos se derraman
bajo las enormes ganas de la resignación
o de la muerte.
Nada
sino este Cristo al que no dejo
que lo vuelvan a clavar en su forma de estar aquí,
a gusto dentro de mí, pero también de ti
y de aquel otro que limpia su sangre
por cariño al Espíritu,
siendo siervo no por desesperación ni saciedad,
ni tampoco por la estatua de María.
Hombre de Dios, criatura, hijo o hermano
soy de Él: ¡qué más da!, pero lo soy
sumando
lo que me sostiene de la noche a la mañana:
las mitades de mi Amor
no levantado con hipócritas palabras;
mis geológicas y unánimes voces en primer plano
aunque ocultas por el deslumbramiento;
mis poderosas razones
para seguir dándole la mano a la esperanza…
Nada
sino este Dios
que hace que yo siga siendo peruano
en esta España mía, mía…
fraternalmente mía porque yo la quiero
como al ardiente Cordero por quien escribo en paz
y por quien mi barro humano tiembla
en el paisaje de Toral.
No más muertes ni trasmuertes:
¡Vida bailarina con la piel ilimitada!
¡Vida sin amarguras y menos deudas!
¡Vida en la tierra pero sin borrar el cielo!
¡Vida con el pecho hinchado
por el Dios vivo que llevo dentro!
O profeta alimentado
por um corvo
(Clive Hicks-Jenkins:
artista galês)
Pelo Deus vivo que levo
dentro
Para Samuel Escobar
Nada senão este Deus
vivo que me preenche
com suas lágrimas caindo
como pombas dentro de
minha carne amplificada
até bicarem as
vértebras da alma,
onde recolho os
seixos rolados
do Pastor que se põe a
soprar a sarça
para atingir o âmago de
minhas noites
ou dias rugentes: o
fogo está na água;
o ar sulca a terra
e eu fixo meus olhos
no porvir
que não está
impregnado de preciosos céus,
senão de amor humano
devotando-se
ao sonho comum de
espantar misérias
equiparáveis à da
fome dos homens,
ombro a ombro pelo
infeliz casebre
onde gritos
silenciosos derramam-se
sob ânsias enormes de
resignação
ou de morte.
Nada
senão este Cristo a
quem não deixo
que o preguem de novo
em sua forma de aqui estar,
à vontade dentro de
mim, mas também de ti
e daquele outro que
limpa seu sangue
por afeição ao
Espírito,
sendo servo não por
desespero ou saciedade,
tampouco pela estátua
de Maria.
Homem de Deus,
criatura, filho ou irmão
sou d’Ele: que
diferença faz!, mas sou-o
acrescendo
o que me sustenta da
noite até a manhã:
as metades do meu
Amor
não guindado com
hipócritas palavras;
minhas geológicas e
unânimes vozes em primeiro plano,
ainda que encobertas
pelo brilho ofuscante;
minhas poderosas
razões
para não cessar de
lhe dar a mão à esperança...
Nada
senão este Deus
que faz com que eu
continue a ser um peruano
nesta Espanha minha,
minha...
fraternalmente minha
porque a amo,
assim como ao ardente
Cordeiro por quem escrevo em paz
e por quem meu barro
humano estremece
na paisagem de Toral.
Não mais mortes nem
pós-mortes:
Vida dançante com a
pele ilimitada!
Vida sem amarguras e
menos dúvidas!
Vida na terra, mas
sem apagar o céu!
Vida com o peito inflado
pelo Deus vivo que levo
dentro!
Referência:
ALENCART, Alfredo
Pérez. Por el Dios vivo que llevo dentro. In: __________. Hasta que Él
vuelva: poesía. Santiago, CL: Hebel Ediciones, 2014. p. 26-27. (Colección
‘Bajo Cuerda’ de poesía)
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