Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Alfredo Pérez Alencart - Pelo Deus vivo que levo dentro

O poeta externa ao leitor a sua íntima relação com a fé e a espiritualidade, revelando-nos uma conexão profunda com um Deus vivo, junto a quem experimenta um convívio pleno de significados pessoais, reverenciadores do amor e da solidariedade entre os seres humanos, em especial na luta contra a fome, a miséria e o sofrimento.

 

O falante rejeita a visão de um Cristo estático, desvinculado da vida cotidiana, e o concebe como uma fonte de inspiração que fomenta práticas orientadas pelo Espírito e pelo amor. Disso resultam versos a dizerem respeito à sua intensa jornada hierática, em linha com as realidades e as fainas diuturnas, um verdadeiro chamado à fraternidade em prol de um mundo melhor, a permear, a mais não poder, a própria identidade do poeta, enquanto peruano em solo espanhol.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alfredo Pérez Alencart

(n. 1962)

 

Por el Dios vivo que llevo dentro

 

Para Samuel Escobar

 

Nada sino este Dios vivo que me llena

con sus lágrimas cayendo

cual palomas dentro de mi carne amplificada

hasta picotear las vértebras del alma

donde cobijo los cantos rodados

del Pastor que sopla la zarza

hasta el tuétano de mis noches

o días rugientes: el fuego está en el agua;

el aire surca la tierra

y yo fijo los ojos en el porvenir

que no está empapado de cielos preciosos

sino de amor humano desviviéndose

por el sueño común de espantar miserias

a ras del hambre de los hombres,

hombro con hombro por la chabola infeliz

donde silenciosos gritos se derraman

bajo las enormes ganas de la resignación

o de la muerte.

 

Nada

sino este Cristo al que no dejo

que lo vuelvan a clavar en su forma de estar aquí,

a gusto dentro de mí, pero también de ti

y de aquel otro que limpia su sangre

por cariño al Espíritu,

siendo siervo no por desesperación ni saciedad,

ni tampoco por la estatua de María.

Hombre de Dios, criatura, hijo o hermano

soy de Él: ¡qué más da!, pero lo soy

sumando

lo que me sostiene de la noche a la mañana:

las mitades de mi Amor

no levantado con hipócritas palabras;

mis geológicas y unánimes voces en primer plano

aunque ocultas por el deslumbramiento;

mis poderosas razones

para seguir dándole la mano a la esperanza…

 

Nada

sino este Dios

que hace que yo siga siendo peruano

en esta España mía, mía…

fraternalmente mía porque yo la quiero

como al ardiente Cordero por quien escribo en paz

y por quien mi barro humano tiembla

en el paisaje de Toral.

 

No más muertes ni trasmuertes:

¡Vida bailarina con la piel ilimitada!

¡Vida sin amarguras y menos deudas!

¡Vida en la tierra pero sin borrar el cielo!

¡Vida con el pecho hinchado

por el Dios vivo que llevo dentro!

 

O profeta alimentado por um corvo

(Clive Hicks-Jenkins: artista galês)

 

Pelo Deus vivo que levo dentro

 

Para Samuel Escobar

 

Nada senão este Deus vivo que me preenche

com suas lágrimas caindo

como pombas dentro de minha carne amplificada

até bicarem as vértebras da alma,

onde recolho os seixos rolados

do Pastor que se põe a soprar a sarça

para atingir o âmago de minhas noites

ou dias rugentes: o fogo está na água;

o ar sulca a terra

e eu fixo meus olhos no porvir

que não está impregnado de preciosos céus,

senão de amor humano devotando-se

ao sonho comum de espantar misérias

equiparáveis à da fome dos homens,

ombro a ombro pelo infeliz casebre

onde gritos silenciosos derramam-se

sob ânsias enormes de resignação

ou de morte.

 

Nada

senão este Cristo a quem não deixo

que o preguem de novo em sua forma de aqui estar,

à vontade dentro de mim, mas também de ti

e daquele outro que limpa seu sangue

por afeição ao Espírito,

sendo servo não por desespero ou saciedade,

tampouco pela estátua de Maria.

Homem de Deus, criatura, filho ou irmão

sou d’Ele: que diferença faz!, mas sou-o

acrescendo

o que me sustenta da noite até a manhã:

as metades do meu Amor

não guindado com hipócritas palavras;

minhas geológicas e unânimes vozes em primeiro plano,

ainda que encobertas pelo brilho ofuscante;

minhas poderosas razões

para não cessar de lhe dar a mão à esperança...

 

Nada

senão este Deus

que faz com que eu continue a ser um peruano

nesta Espanha minha, minha...

fraternalmente minha porque a amo,

assim como ao ardente Cordeiro por quem escrevo em paz

e por quem meu barro humano estremece

na paisagem de Toral.

 

Não mais mortes nem pós-mortes:

Vida dançante com a pele ilimitada!

Vida sem amarguras e menos dúvidas!

Vida na terra, mas sem apagar o céu!

Vida com o peito inflado

pelo Deus vivo que levo dentro!

 

Referência:

 

ALENCART, Alfredo Pérez. Por el Dios vivo que llevo dentro. In: __________. Hasta que Él vuelva: poesía. Santiago, CL: Hebel Ediciones, 2014. p. 26-27. (Colección ‘Bajo Cuerda’ de poesía)

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