Parecendo desorientada
e melancólica, em busca de uma possível redenção ou recobro, a falante não
consegue decifrar o significado dos murmúrios que fazem referência ao seu nome
por todos os lados – indicativos de um ambiente humano exigente e inextricável –,
pelo que busca um escape no ambiente natural, na tentativa de encontrar paz e
simplicidade
Mesmo as belezas que podem
ser encontradas nas veredas da vida – “uma caiena, um lírio fresco” –, lídimos
suportes de desfastio às suas angústias sem fim, têm lá as suas fragilidades, pois
que efêmeras. Resta-lhe, por conseguinte, empreender contornos a essa sensação
de vulnerabilidade, talvez uma transformação psíquica, sublimadora a esse
estado mental túrbido, capaz de imantar-lhe os passos a um renque norteador de
sentidos.
J.A.R. – H.C.
Clemencia Tariffa
(n. 1959)
Rumores
No logro entender,
estoy sentada
en el quicio de la
ventana caoba;
sus peldaños son de
barro.
Oigo mi nombre por
todos lados;
repito, no logro
entender qué pasa.
Ni puedo ni debo
pensar en los humanos.
Debo sumergirme
completa en el mar,
no salir más y vivir
allí con las medusas,
pececillos, corales,
o morir como las
plantas marinas
rodeada siempre de
caracoles.
Estoy triste; me iré
por la callejuela que de
aquí diviso.
Caminaré calle
arriba, seguramente encontraré
una flor,
una cayena, un fresco
lirio.
Creo que si me
tocasen me tornaría polvo.
Polvo azul.
Así terminamos las
mariposas.
Mulher sentada sobre o peitoril
da janela
(Paul Hedley: pintor inglês)
Rumores
Não logro entender,
estou sentada
no batente da janela
de mogno;
seus degraus são de
barro.
Ouço meu nome por
todos os lados;
repito, não logro
entender o que se passa.
Nem posso nem devo pensar
nos humanos.
Devo me submergir por
completo no mar,
não sair mais e viver
ali com as águas-vivas,
os peixinhos, e
corais,
ou morrer como as
plantas marinhas
sempre rodeada de
caramujos.
Estou triste; irei
pelo beco que
avisto daqui.
Caminharei rua acima,
com certeza encontrarei
uma flor,
uma caiena, um lírio
fresco.
Creio que se me
tocassem me tornaria poeira.
Poeira azul.
Assim terminamos as
borboletas.
Referência:
TARIFFA, Clemencia.
Rumores / Rumores. Tradução de Estella Vidotti. In: __________. Difícil
falar com as sombras: poemas traduzidos de Clemencia Tariffa. Edição
bilíngue: espanhol x português. Vários tradutores. Belo Horizote, MG:
FALE/UFMG, 2018. Em espanhol: p. 14; em português: p. 15. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 jul.
2024. (Edições ‘Viva Voz’)
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