Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de julho de 2024

Clemencia Tariffa - Rumores

Parecendo desorientada e melancólica, em busca de uma possível redenção ou recobro, a falante não consegue decifrar o significado dos murmúrios que fazem referência ao seu nome por todos os lados – indicativos de um ambiente humano exigente e inextricável –, pelo que busca um escape no ambiente natural, na tentativa de encontrar paz e simplicidade

 

Mesmo as belezas que podem ser encontradas nas veredas da vida – “uma caiena, um lírio fresco” –, lídimos suportes de desfastio às suas angústias sem fim, têm lá as suas fragilidades, pois que efêmeras. Resta-lhe, por conseguinte, empreender contornos a essa sensação de vulnerabilidade, talvez uma transformação psíquica, sublimadora a esse estado mental túrbido, capaz de imantar-lhe os passos a um renque norteador de sentidos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Clemencia Tariffa

(n. 1959)

 

Rumores

 

No logro entender,

estoy sentada

en el quicio de la ventana caoba;

sus peldaños son de barro.

Oigo mi nombre por todos lados;

repito, no logro entender qué pasa.

Ni puedo ni debo pensar en los humanos.

Debo sumergirme completa en el mar,

no salir más y vivir allí con las medusas,

pececillos, corales,

o morir como las plantas marinas

rodeada siempre de caracoles.

Estoy triste; me iré por la callejuela que de

aquí diviso.

Caminaré calle arriba, seguramente encontraré

una flor,

una cayena, un fresco lirio.

Creo que si me tocasen me tornaría polvo.

Polvo azul.

Así terminamos las mariposas.

 

Mulher sentada sobre o peitoril da janela

(Paul Hedley: pintor inglês)

 

Rumores

 

Não logro entender,

estou sentada

no batente da janela de mogno;

seus degraus são de barro.

Ouço meu nome por todos os lados;

repito, não logro entender o que se passa.

Nem posso nem devo pensar nos humanos.

Devo me submergir por completo no mar,

não sair mais e viver ali com as águas-vivas,

os peixinhos, e corais,

ou morrer como as plantas marinhas

sempre rodeada de caramujos.

Estou triste; irei pelo beco que

avisto daqui.

Caminharei rua acima, com certeza encontrarei

uma flor,

uma caiena, um lírio fresco.

Creio que se me tocassem me tornaria poeira.

Poeira azul.

Assim terminamos as borboletas.

 

Referência:

 

TARIFFA, Clemencia. Rumores / Rumores. Tradução de Estella Vidotti. In: __________. Difícil falar com as sombras: poemas traduzidos de Clemencia Tariffa. Edição bilíngue: espanhol x português. Vários tradutores. Belo Horizote, MG: FALE/UFMG, 2018. Em espanhol: p. 14; em português: p. 15. Disponível neste endereço. Acesso em: 10 jul. 2024. (Edições ‘Viva Voz’)

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