Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de julho de 2024

Eugenio Montale - Os limões

Mesmo sendo um “poeta laureado” – afinal, Montale foi agraciado com o Nobel de Literatura em 1975 –, o autor não se atém aos artifícios de maior complexidade que grande parte dos vates reputados em alta conta adota em suas composições líricas, preferindo ir ao encontro da beleza e da harmonia por vias mais simples e triviais, tencionando apreender-lhes a placidez, as sutilezas, os contrastes, as distorções, as surpresas, as epifanias que se nos revelam, v.g., pelo renovo do cenário natural.

 

Suas estratégias de escrita, algo coloquiais, retratam as cenas de um mergulho na contemplação do mundo, logrando obter efeitos de transcendência, de revelação e de conexão com algo maior, mesmo nos lugares mais inesperados e em conjunturas episódicas, ainda quando tangidos pela monotonia e pelo desencanto em relação ao quotidiano.

 

J.A.R. – H.C.

 

Eugenio Montale

(1896-1981)

 

I limoni

 

Ascoltami, i poeti laureati

si muovono soltanto fra le piante

dai nomi poco usati: bossi ligustri o acanti.

Io, per me, amo le strade che riescono agli erbosi

fossi dove in pozzanghere

mezzo seccate agguantano i ragazzi

qualche sparuta anguilla:

le viuzze che seguono i ciglioni,

discendono tra i ciuffi delle canne

e mettono negli orti, tra gli alberi dei limoni.

 

Meglio se le gazzarre degli uccelli

si spengono inghiottite dall’azzurro:

più chiaro si ascolta il susurro

dei rami amici nell’aria che quasi non si muove,

e i sensi di quest’odore

che non sa staccarsi da terra

e piove in petto una dolcezza inquieta.

Qui delle divertite passioni

per miracolo tace la guerra,

qui tocca anche a noi poveri la nostra parte di ricchezza

ed è l’odore dei limoni.

 

Vedi, in questi silenzi in cui le cose

s’abbandonano e sembrano vicine

a tradire il loro ultimo segreto,

talora ci si aspetta

di scoprire uno sbaglio di Natura,

il punto morto del mondo, l’anello che non tiene,

il filo da disbrogliare che finalmente ci metta

nel mezzo di una verità.

Lo sguardo fruga d’intorno,

la mente indaga accorda disunisce

nel profumo che dilaga

quando il giorno più languisce.

Sono i silenzi in cui si vede

in ogni ombra umana che si allontana

qualche disturbata Divinità.

 

Ma l’illusione manca e ci riporta il tempo

nelle città rumorose dove l’azzurro si mostra

soltanto a pezzi, in alto, tra le cimase.

La pioggia stanca la terra, di poi; s’affolta

il tedio dell’inverno sulle case,

la luce si fa avara – amara l’anima.

Quando un giorno da un malchiuso portone

tra gli alberi di una corte

ci si mostrano i gialli dei limoni;

e il gelo del cuore si sfa,

e in petto ci scrosciano

le loro canzoni

le trombe d’oro della solarità.

 

Limãos

(Robert Papp: artista norte-americano)

 

Os limões

 

Escuta-me, os poetas laureados

movem-se tão somente entre as plantas

de nomes pouco usados: buxos ligustros e acantos.

Eu, por mim, gosto de caminhos que levam às agrestes

valas onde em poças

já meio secas rapazes apanham

alguma enguia miúda:

as veredas que seguem junto às bordas,

descem por entre os tufos de canas

e chegam até os hortos, no meio dos limoeiros.

 

É melhor quando a algazarra dos pássaros

se dilui e é tragada pelo azul:

mais claro se há de escutar o sussurro

de ramos amigos no ar que não se move quase,

e as sensações desse cheiro

que não se aparta da terra

e uma doçura inquieta chove no peito.

Aqui das distraídas paixões

por um milagre cala-se a guerra,

aqui até a nós pobres cabe nossa parte de riqueza

e é o aroma dos limões.

 

Vês, é nesses silêncios em que as coisas

se abandonam e como que estão prestes

a trair o seu último segredo,

que por vezes se espera

descobrir um engano da Natureza,

o ponto morto do mundo, o elo que não resiste,

a mecha a deslindar que enfim nos ponha

no âmago de uma verdade.

O olhar revista em torno,

a mente indaga reúne separa

no perfume que alastra

quando mais langue o dia.

São os silêncios em que se avista

em toda sombra humana que se afasta

alguma importunada Divindade.

 

Mas a ilusão falha e o tempo nos reporta

às ruidosas cidades onde o azul se mostra

só aos pedaços, no alto, entre as cimalhas.

A chuva cansa a terra, depois; cerra-se

o tédio do inverno sobre as casas,

a luz se torna avara – a alma amarga.

Quando um dia um portão entreaberto

em meio às árvores de um pátio

nos mostra os amarelos dos limões;

e o gelo do coração se desfaz,

e brotam em nosso peito

as canções que ressoam

dos seus clarins de ouro solar.

 

Referência:

 

MONTALE, Eugenio. I limoni / Os limões. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia: 1920-1927. Prefácio, tradução e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. Em italiano: 30 e 32; em português: p. 31 e 33. (Coleção ‘Prêmio Nobel’)

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