Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 8 de julho de 2024

María Mercedes Carranza - A pátria

Carranza descreve a sua pátria colombiana em estado de decadência e deterioração, uma herdade colonial do século XIX, coberta por pátios de azáleas, mas que, ao se deparar com desafios e dificuldades ao longo dos séculos, não chega a encontrar soluções perduráveis, mesmo porque erros do passado se perpetuam e atravancam o progresso.

 

Os riscos e as atribulações se revelam pela violência ostensiva e pela opressão quotidianas, quando não pela censura e pelo silenciamento (uma alusão às práticas do narcotráfico?!), mesmo a par de um modo de vida que busca aparentar a sua face de normalidade, vale dizer, com alguma persistência ante as circunstâncias adversas: vida e morte se entrelaçam, tornando lerda a missão de dar soluções satisfatórias aos impasses socioeconômicos e políticos enfrentados pela nação.

 

J.A.R. – H.C.

 

María Mercedes Carranza

(1945-2003)

 

La patria

 

Esta casa de espesas paredes coloniales

y un patio de azaleas muy decimonónico

hace varios siglos que se viene abajo.

Como si nada las personas van y vienen

por las habitaciones en ruina,

hacen el amor, bailan, escriben cartas.

A menudo silban balas o es tal vez el viento

que silba a través del techo desfondado.

En esta casa los vivos duermen con los muertos,

imitan sus costumbres, repiten sus gestos

y cuando cantan, cantan sus fracasos.

Todo es ruina en esta casa,

están en ruina el abrazo y la música,

el destino, cada mañana, la risa son ruina;

las lágrimas, el silencio, los sueños.

Las ventanas muestran paisajes destruidos,

carne y ceniza se confunden en las caras,

en las bocas las palabras se revuelven con miedo.

En esta casa todos estamos enterrados vivos.

 

Casa antiga em ruínas

(Adolfo Arranz: artista espanhol)

 

A pátria

 

Esta casa, com suas espessas paredes coloniais

e um pátio de azáleas bem ao estilo oitocentista,

há vários séculos que está vindo abaixo.

Como se nada fosse, as pessoas entram e saem

dos quartos em ruínas,

fazem amor, dançam, escrevem cartas.

Com frequência, ouve-se o silvo de balas ou, talvez,

seja o vento a sibilar através do teto desabado.

Nesta casa, os vivos dormem com os mortos,

imitam seus costumes, repetem seus gestos

e, quando cantam, cantam seus fracassos.

Tudo é ruína nesta casa:

estão em ruína o abraço e a música,

o destino, todas as manhãs, o riso,

as lágrimas, o silêncio, os sonhos.

As janelas mostram paisagens destruídas,

carne e cinzas se confundem nos rostos,

nas bocas as palavras se revolvem com medo.

Nesta casa, todos estamos enterrados vivos.

 

Referência:

 

CARRANZA, María Mercedes. La patria. In: CUÉLLAR, Margarito (Introducción, selección y notas). Jinetes del aire: poesía contemporánea de Latinoamérica e do Caribe. Prólogo de Julio Ortega. 1. ed. Santiago, CL: RIL Editores, ago. 2011. p. 74.

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