Carranza descreve a sua pátria colombiana em estado de decadência e deterioração, uma
herdade colonial do século XIX, coberta por pátios de azáleas, mas que, ao se
deparar com desafios e dificuldades ao longo dos séculos, não chega a encontrar
soluções perduráveis, mesmo porque erros do passado se perpetuam e atravancam o
progresso.
Os riscos e as atribulações
se revelam pela violência ostensiva e pela opressão quotidianas, quando não pela
censura e pelo silenciamento (uma alusão às práticas do narcotráfico?!), mesmo
a par de um modo de vida que busca aparentar a sua face de normalidade, vale
dizer, com alguma persistência ante as circunstâncias adversas: vida e morte se
entrelaçam, tornando lerda a missão de dar soluções satisfatórias aos impasses socioeconômicos
e políticos enfrentados pela nação.
J.A.R. – H.C.
María Mercedes
Carranza
(1945-2003)
La patria
Esta casa de espesas
paredes coloniales
y un patio de azaleas
muy decimonónico
hace varios siglos
que se viene abajo.
Como si nada las
personas van y vienen
por las habitaciones
en ruina,
hacen el amor,
bailan, escriben cartas.
A menudo silban balas
o es tal vez el viento
que silba a través
del techo desfondado.
En esta casa los
vivos duermen con los muertos,
imitan sus
costumbres, repiten sus gestos
y cuando cantan,
cantan sus fracasos.
Todo es ruina en esta
casa,
están en ruina el
abrazo y la música,
el destino, cada
mañana, la risa son ruina;
las lágrimas, el
silencio, los sueños.
Las ventanas muestran
paisajes destruidos,
carne y ceniza se
confunden en las caras,
en las bocas las
palabras se revuelven con miedo.
En esta casa todos
estamos enterrados vivos.
Casa antiga em ruínas
(Adolfo Arranz:
artista espanhol)
A pátria
Esta casa, com suas espessas
paredes coloniais
e um pátio de azáleas
bem ao estilo oitocentista,
há vários séculos que
está vindo abaixo.
Como se nada fosse, as
pessoas entram e saem
dos quartos em
ruínas,
fazem amor, dançam,
escrevem cartas.
Com frequência, ouve-se
o silvo de balas ou, talvez,
seja o vento a sibilar
através do teto desabado.
Nesta casa, os vivos
dormem com os mortos,
imitam seus costumes,
repetem seus gestos
e, quando cantam,
cantam seus fracassos.
Tudo é ruína nesta
casa:
estão em ruína o
abraço e a música,
o destino, todas as
manhãs, o riso,
as lágrimas, o
silêncio, os sonhos.
As janelas mostram
paisagens destruídas,
carne e cinzas se
confundem nos rostos,
nas bocas as palavras
se revolvem com medo.
Nesta casa, todos
estamos enterrados vivos.
Referência:
CARRANZA, María
Mercedes. La patria. In: CUÉLLAR, Margarito (Introducción, selección y notas). Jinetes
del aire: poesía contemporánea de Latinoamérica e do Caribe. Prólogo de
Julio Ortega. 1. ed. Santiago, CL: RIL Editores, ago. 2011. p. 74.
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