Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Paulo Leminski - Asas e Azares

Com aquela sua escrita sempre concisa e, ao mesmo tempo, tendente a múltiplos sentidos, em que os significantes, por igual, exercem papel de relevo, pois que, com frequência, selecionados em razão de paronímia ou homonímia, Leminski percute nestes versos a lira da resiliência, da coragem para superar desafios e do uso eficaz da liberdade de escolha, em linha – claro está – com os parâmetros que cada qual vislumbra para os seus próprios “voos”.

 

Com efeito, a assunção de um estado emancipatório em relação à vida que se leva, bem assim o sobrepujamento dos contratempos e reveses que vez por outra nos alcançam, compensam quaisquer sofrimentos decorrentes de uma “asa ferida”. Afinal, “a dor de voar não existe” , além de que, tal como se diz entre os operadores do mercado financeiro, para maiores ganhos maiores riscos!

 

J.A.R. – H.C.

 

Paulo Leminski

(1944-1989)

 

Asas e Azares

 

Voar com asa ferida?

Abram alas quando eu falo.

Que mais foi que fiz na vida?

Fiz, pequeno, quando o tempo

estava todo do meu lado

e o que se chama passado,

passatempo, pesadelo,

só existia nos livros.

Fiz, depois, dono de mim,

quando tive que escolher

entre um abismo, o começo,

e essa história sem fim.

Asa ferida, asa

ferida,

meu espaço, meu herói.

A asa arde. Voar, isso não dói.

 

Vento sob minhas asas

(Christine Alfery: artista norte-americana)

 

Referência:

 

LEMINSKI, Paulo. Asas e azares. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 240.

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