Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Don Paterson - Poesia

Sob a forma de um soneto, o escritor e músico escocês lança um olhar introspectivo sobre a práxis poética e sua íntima e consolidada relação com a flama de um amor que a ignifica, ou de outro modo, a poesia sempre a comportar algo de etéreo e intangível, a capturar o lado mais imanente, diria até mais magnificente e sublime, do manancial de onde emerge para o mundo.

 

A tônica da poesia resultaria, segundo o poeta, concentrada e incólume à passagem do tempo, efundida no leito da impessoalidade, quando não carregada de referências específicas ou de hiperbólicos egos, suscitadores de emoções que, em última instância, sobrecarregariam o discurso poético: o que o falante tem em mira, parece-me, é o assentar de uma escrita cujos sentidos transcendam a individualidade pura e simples, conectando-se a algo maior e mais profundo, em laço tenaz com a fértil energia do amor.

 

J.A.R. – H.C.

 

Don Paterson

(n. 1963)

 

Poetry

 

In the same way that the mindless diamond keeps

one spark of the planet’s early fires

trapped forever in its net of ice,

it’s not love’s later heat that poetry holds,

but the atom of the love that drew it forth

from the silence: so if the bright coal of his love

begins to smoulder, the poet hears his voice

suddenly forced, like a bar-room singer’s – boastful

with his own huge feeling, or drowned by violins;

but if it yields a steadier light, he knows

the pure verse, when it finally comes, will sound

like a mountain spring, anonymous and serene.

 

Beneath the blue oblivious sky, the water

sings of nothing, not your name, not mine.

 

Amor Eterno

(David Renshaw: artista inglês)

 

Poesia

 

Do mesmo modo que o diamante bruto mantém

uma centelha das primeiras labaredas do planeta

aprisionada para sempre em sua rede de cristais,

não é o calor tardio do amor que a poesia guarda,

senão o átomo de amor que a fez irromper

do silêncio: assim, se o luzente carvão de seu amor

começa a arder, o poeta escuta a própria voz de repente

forçada, como a de um cantor de bar – jactanciosa

com o seu íntimo e vasto sentir, ou abafada por violinos;

mas caso produza uma luz mais estável, sabe ele

que o verso puro, quando finalmente chegar, soará

como um manancial serrano, anônimo e sereno.

 

Sob o firmamento azul do oblívio, a água

nada canta, nem o teu nome, tampouco o meu.

 

Referência:

 

PATERSON, Don. Poetry. In: COLLINS, Billy (Sel. & Int.). Poetry 180: a turn back to poetry. An anthology of contemporary poems. New York, NY: Random House, 2003. p. 87.

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