Sob a forma de um soneto,
o escritor e músico escocês lança um olhar introspectivo sobre a práxis poética
e sua íntima e consolidada relação com a flama de um amor que a ignifica, ou de
outro modo, a poesia sempre a comportar algo de etéreo e intangível, a capturar
o lado mais imanente, diria até mais magnificente e sublime, do manancial de
onde emerge para o mundo.
A tônica da poesia resultaria,
segundo o poeta, concentrada e incólume à passagem do tempo, efundida no leito
da impessoalidade, quando não carregada de referências específicas ou de hiperbólicos
egos, suscitadores de emoções que, em última instância, sobrecarregariam o discurso
poético: o que o falante tem em mira, parece-me, é o assentar de uma escrita cujos
sentidos transcendam a individualidade pura e simples, conectando-se a algo
maior e mais profundo, em laço tenaz com a fértil energia do amor.
J.A.R. – H.C.
Don Paterson
(n. 1963)
Poetry
In the same way that
the mindless diamond keeps
one spark of the
planet’s early fires
trapped forever in
its net of ice,
it’s not love’s later
heat that poetry holds,
but the atom of the
love that drew it forth
from the silence: so
if the bright coal of his love
begins to smoulder,
the poet hears his voice
suddenly forced, like
a bar-room singer’s – boastful
with his own huge
feeling, or drowned by violins;
but if it yields a
steadier light, he knows
the pure verse, when
it finally comes, will sound
like a mountain
spring, anonymous and serene.
Beneath the blue
oblivious sky, the water
sings of nothing, not
your name, not mine.
Amor Eterno
(David Renshaw:
artista inglês)
Poesia
Do mesmo modo que o
diamante bruto mantém
uma centelha das
primeiras labaredas do planeta
aprisionada para
sempre em sua rede de cristais,
não é o calor tardio
do amor que a poesia guarda,
senão o átomo de amor
que a fez irromper
do silêncio: assim, se
o luzente carvão de seu amor
começa a arder, o
poeta escuta a própria voz de repente
forçada, como a de um
cantor de bar – jactanciosa
com o seu íntimo e
vasto sentir, ou abafada por violinos;
mas caso produza uma
luz mais estável, sabe ele
que o verso puro,
quando finalmente chegar, soará
como um manancial serrano,
anônimo e sereno.
Sob o firmamento azul
do oblívio, a água
nada canta, nem o teu
nome, tampouco o meu.
Referência:
PATERSON, Don.
Poetry. In: COLLINS, Billy (Sel. & Int.). Poetry 180: a turn back to
poetry. An anthology of contemporary poems. New York, NY: Random House, 2003. p.
87.
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