Em primeira mirada, o
poeta paulista aqui retrata uma visão lírica e intensa do desejo – numa mescla
de sensualidade, saudade e inspiração artística –, entretecendo-a por meio de
imagens vívidas e profundidade emocional: um pássaro com belos contornos femininos
é a metáfora que o cativa, razão maior para o seu canto.
Nessa toada, vê-se
então como o amor a que se aspira torna-se essencial para um determinado tipo
de poesia, formando um sulco persistente já no longo caudal literário da
humanidade: o próprio poema pode ser compreendido como uma loa à poesia, sempre
esquiva e misteriosa, sedutora e distante, axiomática e de difícil apreensão.
J.A.R. – H.C.
(1927-2004)
Pássaro perdido em maresia, te quero,
com teus seios de nêsperas e teu colo de safira.
Assim prenhe de rosas, te quero,
assim estranha e múltipla, não consentida,
assim tranquila, dispersa em sonho,
fantástica e só.
E mais que por isso te quero,
ave de asa tonta,
corpo e forma do meu canto.
Boneca da infância esquecida,
eis que te quero.
Envolta em rosas
(Ardith Starostka:
artista norte-americana)
Referência:
RODRIGUES, Geraldo
Pinto. Poema. In: ALVES, Henrique L. (Org.). Poetas contemporâneos. São
Paulo, SP: Roswitha Kempf, 1985. p. 171.
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