O poeta debruça-se
sobre o seu mister, elaborando um soneto acerca das técnicas para a elaboração
de um soneto, em meio ao qual enfatiza as complexidades inerentes ao processo
criativo, sugerindo àqueles que se dedicam à poética a serem receptivos aos momentos
de inspiração, para que, desse modo, possam dar proveito às experiências
pessoais – as nostálgicas inclusive – e às proporcionadas pelo entorno
imediato.
Abraçar o
desconhecido, moderar-se na seleção dos elementos constituintes do poema e
despojar-se de noções preconcebidas – isto é, atenuando o peso de influências
prévias, para se criar algo genuíno –, são outras tantas bússolas que se
orientam à perpétua busca por autenticidade e inovação artística no âmbito da
Lírica.
J.A.R. – H.C.
Carlos Pena Filho
(1929-1960)
Para fazer um soneto
A Tomaz Seixas
Tome um pouco de
azul, se a tarde é clara,
e espere pelo
instante ocasional.
Nesse curto intervalo
Deus prepara
e lhe oferta a
palavra inicial.
Aí, adote uma atitude
avara:
se você preferir a
cor local,
não use mais que o
sol de sua cara
e um pedaço de fundo
de quintal.
Se não, procure a
cinza e essa vagueza
das lembranças da
infância, e não se apresse,
antes, deixe levá-Io
a correnteza.
Mas ao chegar ao
ponto em que se tece
dentro da escuridão a
vã certeza,
ponha tudo de lado e
então comece.
Pôr do sol no quintal
(Carl Grauer: pintor
norte-americano)
Referência:
PENA FILHO, Carlos.
Para fazer um soneto. In: __________. Livro geral. Organização e seleção
de Tânia Carneiro Leão. Recife, PE: Gráfica e Editora Liceu, 1999. p. 100.
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