Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de julho de 2024

Contador Borges - À luz dos vegetais

A julgar pela epígrafe inserta no poema, a relembrar o local e o ano do falecimento do pintor Vincent van Gogh (1853-1890), o poema tenciona nos transportar ao legado do holandês, para que exploremos as cores e o fulgor intenso de suas telas, a incompreensão do valor de sua arte à época em que surgiu, assim como a dualidade entre a paixão e a dor presentes ao longo de sua tormentosa trajetória.

 

O título do poema bem atenta para a frequência com que as telas se inclinam aos elementos naturais à volta do artista, dando vida ao pacato povoado francês onde passou os seus últimos dias: corvos, trigais e sombras são elementos recorrentes nas obras do pintor, as quais, mesmo a par da aparente trivialidade temática, não deixam de desafiar as expectativas dos que as contemplam, quer por presumirem um certo sentido de renovação espiritual, quer por transcenderem, de algum modo, os limites canônicos da expressão artística.

 

J.A.R. – H.C.

 

Contador Borges

(n. 1954)

 

À luz dos vegetais

 

Auvers-sur-oise, 1890

 

À luz

Dos vegetais

As cores fervem

Na paleta

 

Uma rajada de tinta

Corta súbito

A fulva

paisagem

Entre

corvos

Trigais

e sombras

Para espanto

Das esferas

 

Enquanto a orelha

Sangra de nudez

A alma

se banha

No fogo

Das papoulas!

 

Campo de Papoulas

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Referência:

 

BORGES, Contador. À luz dos vegetais. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, seleção e notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo, SP: Landy, 2007. p. 120.

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