A julgar pela
epígrafe inserta no poema, a relembrar o local e o ano do falecimento do pintor
Vincent van Gogh (1853-1890), o poema tenciona nos transportar ao legado do holandês,
para que exploremos as cores e o fulgor intenso de suas telas, a incompreensão do
valor de sua arte à época em que surgiu, assim como a dualidade entre a paixão
e a dor presentes ao longo de sua tormentosa trajetória.
O título do poema bem
atenta para a frequência com que as telas se inclinam aos elementos naturais à
volta do artista, dando vida ao pacato povoado francês onde passou os seus
últimos dias: corvos, trigais e sombras são elementos recorrentes nas obras do
pintor, as quais, mesmo a par da aparente trivialidade temática, não deixam de
desafiar as expectativas dos que as contemplam, quer por presumirem um certo
sentido de renovação espiritual, quer por transcenderem, de algum modo, os
limites canônicos da expressão artística.
J.A.R. – H.C.
Contador Borges
(n. 1954)
Auvers-sur-oise, 1890
À luz
Dos vegetais
As cores fervem
Na paleta
Uma rajada de tinta
Corta súbito
A fulva
paisagem
Entre
corvos
Trigais
e sombras
Para espanto
Das esferas
Enquanto a orelha
Sangra de nudez
A alma
se banha
No fogo
Das papoulas!
Campo de Papoulas
(Vincent van Gogh: pintor
holandês)
Referência:
BORGES, Contador. À
luz dos vegetais. In: DANIEL, Claudio; BARBOSA, Frederico (Organização, seleção
e notas). Na virada do século: poesia de invenção no Brasil. São Paulo,
SP: Landy, 2007. p. 120.
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