Sem respostas claras
ou lenitivos, o poeta mergulha na dor e na conturbação do que a morte violenta
representa para aqueles que a presenciam – desconcerto, desespero, finitude da
vida –, sem falar nas consequências de ordem emocional e existencial, haja
vista o seu impacto quase sempre trágico e avassalador.
O falante se
questiona sobre a sua capacidade para se adaptar a essa brutal realidade ou se
se deixa consumir pelos efeitos da tristeza e do luto. Afinal, a artificialidade
e a desumanização da situação deixam rastros e marcas dispersas, de difícil
compreensão e assimilação, invariavelmente acompanhadas por sensações de
estupor, tremor, paralisia e espasmos.
A propósito, o poeta imprime
aos versos a correlata atmosfera de que se reveste o designado gênero lírico “elegia”
– de lamento, tristeza, melancolia –, via de regra associada a um contexto de
sofrimento e de desolação. Alguma dúvida sobre a existência de tal verniz sobre
este afresco?!
J.A.R. – H.C.
Claude Esteban
(1935-2006)
Elégie de la mort
violente
Je vois le sol, mais
le sang
est ailleurs,
dans une poche de
plastique, nulle part
et partout, parmi les
draps
ou sur l’acier,
lá-bas,
d’une carlingue.
Ce n’est tien
que la mort violente.
Celle
qui vient
dans la stupem et le
tremblement
et le coeur qui se
paralyse
et les soubresauts
dans le yeux
et le temps qui
recule
et qui s’effondre.
N’ai-je done que
cette heure
pour souffrir?
Suis-je debout?
Suis-je
présent, alors que
maintenant
je parle aux auttres?
Suis-je un homme?
Suis je celui
qui s’accoutaine
et qui consent?
Suis-je toujours
celai qui pleute?
Lágrimas de sangue
(Oswaldo Guayasamin:
artista equatoriano)
Elegia da morte
violenta
Vejo o solo, mas o
sangue
esta além,
numa bolsa de
plástico, em toda parte
e em parte alguma,
entre os lençóis
ou mesmo no aço
de uma cabine.
Seja como for
é a morte violenta.
Aquela
que se abeira
no assombro e no
temor
e o coração
paralisando
e o sobressalto nos
olhos
e o tempo que se
atarda
e se dilui.
Não disponho desta
hora
para sofrer?
Estou vivo? Estou
aqui, enquanto
falo com os outros?
Sou um homem? Sou
aquele
que se acostuma
e que consente? Sou
sempre
aquele que chora?
Referência:
ESTEBAN, Claude. Elégie
de la mort violente / Elegia da morte violenta. Tradução de Marco Lucchesi. Poesia
sempre: revista semestral de poesia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de
janeiro (RJ), ano 3, n. 5, fev. 1995. Em francês: p. 58; em português: p. 59.
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