Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Claude Esteban - Elegia da morte violenta

Sem respostas claras ou lenitivos, o poeta mergulha na dor e na conturbação do que a morte violenta representa para aqueles que a presenciam – desconcerto, desespero, finitude da vida –, sem falar nas consequências de ordem emocional e existencial, haja vista o seu impacto quase sempre trágico e avassalador.

 

O falante se questiona sobre a sua capacidade para se adaptar a essa brutal realidade ou se se deixa consumir pelos efeitos da tristeza e do luto. Afinal, a artificialidade e a desumanização da situação deixam rastros e marcas dispersas, de difícil compreensão e assimilação, invariavelmente acompanhadas por sensações de estupor, tremor, paralisia e espasmos.

 

A propósito, o poeta imprime aos versos a correlata atmosfera de que se reveste o designado gênero lírico “elegia” – de lamento, tristeza, melancolia –, via de regra associada a um contexto de sofrimento e de desolação. Alguma dúvida sobre a existência de tal verniz sobre este afresco?!

 

J.A.R. – H.C.

 

Claude Esteban

(1935-2006)

 

Elégie de la mort violente

 

Je vois le sol, mais le sang

est ailleurs,

dans une poche de plastique, nulle part

et partout, parmi les draps

ou sur l’acier, lá-bas,

d’une carlingue.

 

Ce n’est tien

que la mort violente. Celle

qui vient

dans la stupem et le tremblement

et le coeur qui se paralyse

et les soubresauts dans le yeux

et le temps qui recule

et qui s’effondre.

 

N’ai-je done que cette heure

pour souffrir?

Suis-je debout? Suis-je

présent, alors que maintenant

je parle aux auttres?

 

Suis-je un homme? Suis je celui

qui s’accoutaine

et qui consent? Suis-je toujours

celai qui pleute?

 

Lágrimas de sangue

(Oswaldo Guayasamin: artista equatoriano)

 

Elegia da morte violenta

 

Vejo o solo, mas o sangue

esta além,

numa bolsa de plástico, em toda parte

e em parte alguma, entre os lençóis

ou mesmo no aço

de uma cabine.

 

Seja como for

é a morte violenta. Aquela

que se abeira

no assombro e no temor

e o coração paralisando

e o sobressalto nos olhos

e o tempo que se atarda

e se dilui.

 

Não disponho desta hora

para sofrer?

Estou vivo? Estou

aqui, enquanto

falo com os outros?

 

Sou um homem? Sou aquele

que se acostuma

e que consente? Sou sempre

aquele que chora?

 

Referência:

 

ESTEBAN, Claude. Elégie de la mort violente / Elegia da morte violenta. Tradução de Marco Lucchesi. Poesia sempre: revista semestral de poesia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de janeiro (RJ), ano 3, n. 5, fev. 1995. Em francês: p. 58; em português: p. 59.

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