A voz lírica, como a
de um provável docente – leia-se: Wallace, além de poeta, é professor de inglês
–, mostra-se crítica em relação ao exercício de redação desenvolvido por um de
seus alunos: os termos de uma oração surgem nos versos como se pessoas fossem, humanas
o suficiente para incorporar as corrigendas que o falante julga por bem assinalar
no texto de seu pupilo.
Consigne-se que o
autor se reporta a inconvenientes na organização e composição do texto, mas
nada fala sobre eventuais erros de ortografia ou que tais: seriam problemas
menores? Penso que não: vejo, cotidianamente, tantas barbaridades da espécie na
internet, mesmo nos grandes portais de notícias, sem falar nas denominadas
redes sociais!
Seja como for, não
resta dúvida de que organizar as ideias de forma correta e harmoniosa, para que
nos façamos bem entender, não apenas é um exercício poderoso para o cérebro, como
também uma demonstração de consideração e respeito para com os nossos interlocutores.
Afinal, a que se
referia o “poetinha” (V.M.) quando afirmou haver “tantos desencontros pela vida”,
sendo a vida a arte do encontro?! Ora ora: não só ao emprego deliberado de
termos e construções verbais instilados de veneno, bem assim ao mau uso da linguagem,
pela carência de um conhecimento mínimo de suas regras sintáticas ou, ainda, do
valor semântico das palavras empregadas.
J.A.R. – H.C.
Ronald Wallace
(n. 1945)
The student theme
The adjectives all
ganged up on the nouns,
insistent, loud,
demanding, inexact,
their Latinate constructions
flashing. The pronouns
lost their referents:
They were dangling, lacked
the stamina to follow
the prepositions’ lead
in, on, into, to,
toward, for, or from.
They were beset by
passive voices and dead
metaphors,
conjunctions shouting But! or And!
The active verbs were
all routinely modified
by adverbs, that
endlessly and colorlessly ran
into trouble with the
participles sitting
on the margins
knitting their brows like gerunds
(dangling was their
problem, too). The author
was nowhere to be
seen; was off somewhere.
O jovem estudante
(Ozias Leduc: pintor
canadense)
O exercício do aluno
Todos os adjetivos contíguos
aos substantivos,
insistentes,
ruidosos, exigentes, inexatos,
suas construções
latinizadas a cintilar. Os pronomes
perderam seus
referentes: estavam em suspenso, destituídos
de vigor para seguir
o exemplo das preposições
‘em’, ‘sobre’, ‘daqui
a’, ‘para’, ‘com destino a’, ‘por’ ou ‘de’.
Foram sitiados por
vozes passivas e metáforas
mortas, conjunções
que bravejavam Mas! ou E!
Os verbos ativos achavam-se
todos rotineiramente modificados
por advérbios que,
descolorida e incessantemente, metiam-se
em problemas com os
particípios, assentes
nas margens,
franzindo o cenho como gerúndios
(também eles dispostos
em suspenso). Não se via o autor
em parte alguma;
estava longe, noutro lugar.
Referência:
WALLACE, Ronald. The
student theme. In: COLLINS, Billy (Selection and Introduction). Poetry 180:
a turning back to poetry. An anthology of contemporary poems. New York, NY:
Random House Trade Paperbacks, 2003. p. 261.
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