Explorando a réplica
atribuída a Mallarmé, quando em colóquio com Degas, de que “não é com ideias, é
com palavras que se faz um poema” – máxima com o seu equivalente em Pound,
quando afirma que “o veículo da poesia são palavras” –, Levertov tece
considerações sobre a importância das imagens evocadas, na elaboração de um
poema.
Sonhos e visões são mananciais
aos quais os poetas podem muito bem aceder, porque, notoriamente, carregados de
sugestões: no fluxo das palavras, há de perpassá-las a linguagem poética a muito
dizer aos leitores, pois que se o seu significado restringe-se ao próprio
poeta, não há motivos para se colocar o poema em circulação – observa pertinentemente
a poetisa.
J.A.R. – H.C.
Denise Levertov
(1923-1997)
An Argument
Poems are made with
words.
I believe that the
truly deep image comes when it is not pursued. The primary requisite is that
the poet have something to say – he should be driven not by the desire to
create poems but the need to create them. And the more that which he has to say
relates to his whole self – his dreaming self, his domestic self, his
demon-ridden self, his cheerful self, his bad tempered self, his practical
self, his social and his most secret selves, the whole gamut – the more value his
poem will have to the reader. (And if the poet does not care whether his poem
has meaning for anyone besides himself he has no business putting it into
circulation.) Will one deny the deep image to Homer, Dante, and Shakespeare? It
is when the whole man is engaged in the poem that poetry has its full power. I
am not speaking of statement but of implication – full statement being humanly
impossible. And I am the last person to deny the reality of the worlds of dream
and vision – I believe that as Jung has said, “Everything that acts is actual”.
But these worlds are parts of a whole, and the soul in its growing finds its
illustrations, counterparts, obstacles, and doorways in all parts.
As Musas Inquietantes
(Giorgio de Chirico:
pintor italiano)
Um Argumento
Poemas são feitos com
palavras.
Eu acredito que a
verdadeira imagem surge quando ela não é capturada. O pré-requisito principal é
que o poeta tenha algo a dizer – ele deve ser levado não pelo desejo de criar
poemas, mas pela necessidade de criá-los. E quanto mais o que ele tiver a dizer
estiver relacionado com todo o seu eu – o eu sonhador, o eu doméstico, o eu
endemoniado, o eu alegre, o eu mal-humorado, o eu prático, o eu mais social e
mais secreto, toda a sua gama – mais valor o seu poema terá para o leitor. (E
se o poeta não se importa que o seu poema tenha qualquer significado para
qualquer pessoa além de si mesmo, não há porque colocá-lo em circulação.)
Alguém poderia negar a imagem em Homero, Dante e Shakespeare? Quando uma pessoa
está inteiramente envolvida no poema é que a poesia está em seu pleno poder. Não
estou falando sobre declaração, e sim de implicação – uma declaração completa é
humanamente impossível. E eu seria a última pessoa a negar a realidade dos
mundos do sonho e da visão – acredito que, como disse Jung: “Tudo o que atua é
atual”. Mas esses mundos são partes de um todo, e a alma encontra em seu
crescimento as suas ilustrações, correlatos, obstáculos e entradas em todas as
partes.
Referência:
LEVERTOV, Denise. An
argument / Um argumento. Tradução de Thais Medeiros. In: LEITE, Luiza;
MEDEIROS, Thais (Eds.). The floating bear: poemas traduzidos. Vários
poetas & Vários tradutores. Rio de Janeiro, RJ: Fada Inflada e Rébus, 2021.
Em inglês: p. 77; em português: p. 25. Disponível neste
endereço. Acesso em: 5 mai. 2024.
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