Uma persona fluida que
se abrasa ao vento, como se dissesse adeus à vida, ante uma torrente depressiva
a lhe solapar os sonhos, insertos num cofre pejado de riquezas – que é o seu
próprio peito –, mas que, oprimido pela solidão, carece de ânimo para se
exprimir em linguagem, eis que as palavras se “suicidam” antes que atinjam as
fímbrias do intelecto.
Nesse conglomerado de
carências, de medos, de profusa solidão, vislumbra-se um eu fragmentado que se
projeta num “tu” interlocutor a quem se dirige a voz lírica, um símile do “eu” a
dialogar consigo mesma como se outra pessoa fosse: em todo caso, no fecho das
contas, o pessoal e o literário acabam por se confundir, com o derradeiro dístico
a denotar o sentido de uma profecia autorrealizada.
J.A.R. – H.C.
Alejandra Pizarnik
(1936-1972)
Hija del viento
Han venido.
Invaden la sangre.
Huelen a plumas,
a carencias,
a llanto.
Pero tú alimentas al
miedo
y a la soledad
como a dos animales pequeños
perdidos en el
desierto.
Han venido
a incendiar la edad
del sueño.
Un adiós es tu vida.
Pero tú te abrazas
como la serpiente
loca de movimiento
que sólo se halla a
sí misma
porque no hay nadie.
Tú lloras debajo del
llanto,
tú abres el cofre de
tus deseos
y eres más rica que
la noche.
Pero hace tanta
soledad
que las palabras se
suicidan.
Mulher solitária
(Munir Alubaidi:
artista iraquiano)
Filha do vento
Vieram.
Invadem o sangue.
Recendem a penas,
a carências,
a pranto.
Mas tu alimentas o
medo
e a solidão
como dois animais
pequenos
perdidos no deserto.
Vieram
incendiar a idade do
sonho.
Um adeus é tua vida.
Mas tu te abraças
como a serpente a se enovelar
loucamente
para só se deparar diante
de si mesma
porque não há mais ninguém.
Tu choras sob o
pranto,
abres o cofre de teus
desejos
e és mais rica que a
noite.
Mas há tanta solidão
que as palavras se
suicidam.
Referência:
PIZARNIK, Ajejandra.
Hija del viento. In: Obras completas: poesía completa y prosa selecta.
Edición a cargo de Cristina Piña. Buenos Aires, AR: Corregidor, 1994. p. 39.
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