Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de maio de 2024

Langston Hughes - O Blues Langoroso

O poeta nos fala de um negro a tocar um blues meio tangido pela apatia que lhe emerge d’alma, confrangida pelas provações vivenciadas por seu povo, um povo com poucas esperanças de futuro, em cujo firmamento, metaforicamente, lua e estrelas se desvanecem sem deixar quaisquer orientações para tempos difíceis.

 

Imerso em desmedida penumbra existencial, somente aplacada por essa inata vocação musical, ao negro só resta o sonho de dias melhores que lhe possam trazer mais sentido e beleza à vida, de resto fruída sob o signo da melancolia, presente no mesmo espaço mental – reiteremos – no qual também reverbera a melodia sincopada desse langoroso blues.

 

J.A.R. – H.C.

 

Langston Hughes

(1901-1967)

 

The Weary Blues

 

Droning a drowsy syncopated tune,

Rocking back and forth to a mellow croon,

I heard a Negro play.

Down on Lenox Avenue the other night

By the pale dull pallor of an old gas light

He did a lazy sway...

He did a lazy sway...

To the tune o’ those Weary Blues.

With his ebony hands on each ivory key

He made that poor piano moan with melody.

O Blues!

Swaying to and fro on his rickety stool

He played that sad raggy tune like a musical fool.

Sweet Blues!

Coming from a black man’s soul.

O Blues!

In a deep song voice with a melancholy tone

I heard that Negro sing, that old piano moan –

“Ain’t got nobody in all this world,

Ain’t got nobody but ma self.

I’s gwine to quit ma frownin’

And put ma troubles on the shelf.”

 

Thump, thump, thump, went his foot on the floor.

He played a few chords then he sang some more –

“I got the Weary Blues

And I can’t be satisfied.

Got the Weary Blues

And can’t be satisfied –

I ain’t happy no mo’

And I wish that I had died.”

And far into the night he crooned that tune.

The stars went out and so did the moon.

The singer stopped playing and went to bed

While the Weary Blues echoed through his head.

He slept like a rock or a man that’s dead.

 

(1926)

 

O Pianista

(Justin Bua: artista norte-americano)

 

O Blues Langoroso

 

A percutir uma sonolenta melodia sincopada,

Mexendo-se de um lado a outro num cantarolar suave,

Ouvi um Negro a tocar.

Na Avenida Lenox, outra noite,

Sob o palor, sem brilho e cor, de uma velha lâmpada a gás

Agitava-se indolente...

Agitava-se indolente...

Ao som daquele Blues Langoroso.

Com suas mãos de ébano sobre as teclas de marfim,

fazia o pobre piano gemer com melodias.

Oh Blues!

Agitando-se para lá e para cá em seu instável tamborete,

Tocava aquela triste e agastada melodia como um tolo sonante.

Doce Blues!

Infuso à alma de um homem negro.

Oh Blues!

Numa voz com acento grave e tom melancólico,

Ouvi aquele Negro a cantar, aquele velho piano a gemer –

“Não tenho ninguém neste mundo,

Não tenho ninguém mais do que a mim mesmo.

Estou disposto a deixar de franzir o cenho

E seguir em frente, mesmo à vista de meus problemas.”


Tum, Tum, Tum, batia o pé no chão,

Tocava alguns acordes e logo cantava um pouco mais –

“Tenho o Blues Langoroso

E não posso estar satisfeito.

Tenho o Blues Langoroso

E não posso estar satisfeito –

Já não sou mais feliz

E quisera estar morto.”

E noite adentro cantarolava aquela melodia.

As estrelas se apagaram e a lua também.

O cantor então parou de tocar e foi dormir,

Com o Blues Langoroso ainda a ecoar em sua cabeça.

Dormiu feito uma pedra ou como um morto.

 

(1926)

 

Referência:

 

HUGHES, Langston. The weary blues. In: __________. The collected poems of Langston Hughes. Edited by Arnold Rampersad. First Vintage Classics Edition. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), nov. 1995. p. 50.

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