O poeta nos fala de
um negro a tocar um blues meio tangido pela apatia que lhe emerge d’alma, confrangida
pelas provações vivenciadas por seu povo, um povo com poucas esperanças de futuro,
em cujo firmamento, metaforicamente, lua e estrelas se desvanecem sem deixar
quaisquer orientações para tempos difíceis.
Imerso em desmedida
penumbra existencial, somente aplacada por essa inata vocação musical, ao negro
só resta o sonho de dias melhores que lhe possam trazer mais sentido e beleza à
vida, de resto fruída sob o signo da melancolia, presente no mesmo espaço
mental – reiteremos – no qual também reverbera a melodia sincopada desse
langoroso blues.
J.A.R. – H.C.
Langston Hughes
(1901-1967)
The Weary Blues
Droning a drowsy
syncopated tune,
Rocking back and
forth to a mellow croon,
I heard a Negro play.
Down on Lenox Avenue
the other night
By the pale dull
pallor of an old gas light
He did a lazy sway...
He did a lazy sway...
To the tune o’ those
Weary Blues.
With his ebony hands
on each ivory key
He made that poor
piano moan with melody.
O Blues!
Swaying to and fro on
his rickety stool
He played that sad
raggy tune like a musical fool.
Sweet Blues!
Coming from a black
man’s soul.
O Blues!
In a deep song voice
with a melancholy tone
I heard that Negro
sing, that old piano moan –
“Ain’t got nobody in
all this world,
Ain’t got nobody but
ma self.
I’s gwine to quit ma frownin’
And put ma troubles
on the shelf.”
Thump, thump, thump,
went his foot on the floor.
He played a few
chords then he sang some more –
“I got the Weary
Blues
And I can’t be
satisfied.
Got the Weary Blues
And can’t be
satisfied –
I ain’t happy no mo’
And I wish that I had
died.”
And far into the
night he crooned that tune.
The stars went out
and so did the moon.
The singer stopped
playing and went to bed
While the Weary Blues
echoed through his head.
He slept like a rock
or a man that’s dead.
(1926)
O Pianista
(Justin Bua: artista
norte-americano)
O Blues Langoroso
A percutir uma
sonolenta melodia sincopada,
Mexendo-se de um lado
a outro num cantarolar suave,
Ouvi um Negro a tocar.
Na Avenida Lenox,
outra noite,
Sob o palor, sem
brilho e cor, de uma velha lâmpada a gás
Agitava-se
indolente...
Agitava-se
indolente...
Ao som daquele Blues
Langoroso.
Com suas mãos de
ébano sobre as teclas de marfim,
fazia o pobre piano
gemer com melodias.
Oh Blues!
Agitando-se para lá e
para cá em seu instável tamborete,
Tocava aquela triste
e agastada melodia como um tolo sonante.
Doce Blues!
Infuso à alma de um
homem negro.
Oh Blues!
Numa voz com acento grave
e tom melancólico,
Ouvi aquele Negro a
cantar, aquele velho piano a gemer –
“Não tenho ninguém
neste mundo,
Não tenho ninguém
mais do que a mim mesmo.
Estou disposto a
deixar de franzir o cenho
E seguir em frente,
mesmo à vista de meus problemas.”
Tum, Tum, Tum, batia
o pé no chão,
Tocava alguns acordes
e logo cantava um pouco mais –
“Tenho o Blues
Langoroso
E não posso estar
satisfeito.
Tenho o Blues
Langoroso
E não posso estar
satisfeito –
Já não sou mais feliz
E quisera estar
morto.”
E noite adentro cantarolava
aquela melodia.
As estrelas se
apagaram e a lua também.
O cantor então parou
de tocar e foi dormir,
Com o Blues Langoroso
ainda a ecoar em sua cabeça.
Dormiu feito uma
pedra ou como um morto.
(1926)
Referência:
HUGHES, Langston. The
weary blues. In: __________. The collected poems of Langston Hughes.
Edited by Arnold Rampersad. First Vintage Classics Edition. New York, NY:
Vintage Books (A Division of Random House Inc.), nov. 1995. p. 50.
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