Estas linhas, que se
iniciam sob a aparente forma de homenagem do falante aos seus gatos, dão aos
leitores a impressão de que o poeta poderia também ser um pintor de aquarelas, nas
quais os felinos seriam o motivo dominante – todas as suas telas a ornarem,
suspensas, as paredes da casa: ledo engano!
Mais à frente se sabe
que o gato postado às costas do ente lírico encontrava-se ali, pendurado
estrategicamente na parede, como que a ilustrar a cena de horror promovida pelo
orador, ao esganar um dos felinos até a morte, com as suas “mãos inchadas pela
bebida”.
O poema encerra-se
com um verso algo ambivalente e aterrorizante – tanto mais para os gatos! –,
bem à maneira dos contos de Allan Poe, a deitar uma sensação de insânia, no
mínimo de desequilíbrio mental ou de aridez psicológica – talvez por efeito do viciante
consumo de álcool –, de forma a impregnar as derradeiras linhas com um clima
anímico sobressaltado, em franca contradição com o aliciante título atribuído ao
poema.
J.A.R. – H.C.
Gregory Corso
(1930-2001)
I Miss My Dear Cats
My water-colored
hands are catless now
seated here alone in
the dark
my window-shaped head
is bowed with sad draperies
I am catless near
death almost
behind me my last cat
hanging on the wall
dead of my hand drink
bloated
And on all my other
walls from attic to cellar
my sad life of cats
hangs
Os animais de
estimação
(Rudolf Epp: pintor
alemão)
Sinto Falta dos Meus
Queridos Gatos
Minhas mãos
aquareladas agora estão sem gatos
sento-me aqui sozinho
no escuro
minha cabeça com
contornos frestados pende
ao fardo de tristes
cortinas
Estou sem gatos quase
à beira da morte
atrás de mim meu
último gato suspenso na parede
morto por minhas mãos
inchadas pela bebida
E em todas as minhas
outras paredes do sótão à cave
suspensa está a minha
triste vida felina
Referência:
Corso, Gregory. I
miss my dear cats. In: __________. Gasoline & The vestal lady on Brattle.
San Francisco, CA: City Lights Books, 1979. p. 32.
ö
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