Quando tudo parecia
encaminhar-se às vias de fato, digo melhor, à palpabilidade do mundo real,
depois de “milhões de bytes trocados”, o perfil da interlocutora do falante – uma
dona “selvagem, ardente, vulcão em erupção” – foi sumariamente deletado do MSN,
deixando-o na mais absoluta “carência”.
A propósito, há quem
se compraza em limitar os seus relacionamentos amorosos tão apenas ao mundo
virtual, numa intimidade “fria” que lança mão das facilidades colocadas à
disposição pelas ferramentas da hiperconectividade. Mas há também aqueles que
as usam para encontrar um parceiro ou parceira para “uma noite apenas e nada
mais”, como se acessassem as instalações de um supermercado em busca de um
objeto descartável para satisfazer os seus impulsos primordiais – o desafogo do
prazer acima de tudo: decerto pertence a esse segundo grupo o ente lírico do
poema.
J.A.R. – H.C.
Amor Virtual
(Silvija Kicivoj:
artista croata)
Amor Virtual
Você parecia ser
somente
Um rosto a mais na
tela do computador
Entrou pelo MSN como
quem nada quer
Cabelos ondulados,
ombro tatuado, sorriso de mulher.
Meu Status:
disponível, invisível, ausente, ocupado?
Que nada, apenas
ansioso, carente!
O dela: selvagem,
ardente, vulcão em erupção.
Amar no faz-de-conta
como casal apaixonado
Marido e mulher em noites
de lua de mel
Intenso, envolvente,
selvagem, animal
Milhões de bytes
trocados, limão com sal
Portão aberto, freio
de mão puxado...
E quando tudo parecia
tão perto, real, atual
C’est la fin. Foi
deletado.
Amor Virtual
(Shivangi Sah:
artista indiana)
Referência:
EMILIO, Antonio. Amor
virtual. In: MARTINS, Gonçalo (Seleção); FACCHINI, Mayara (Organização). Antologia
paulista de poesia contemporânea: além da terra, além do céu. 1. ed.
Lisboa, PT: Chiado Editora, out. 2015. p. 28.
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