Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Conrad Aiken - O Quarto

No ambiente preferencial de recolhimento, o falante confronta o caos e suas trevas ao momento sequente de ordem, pejados de maior brilho e luz, em presumível correlação com os fenômenos da morte e do nascimento, ou mesmo de tormentas psicológicas em que muitos submergem, para desses pélagos da alma retornarem muito mais fortalecidos.

 

Consigne-se que na biografia de Aiken consta um fato grave ocorrido com os seus genitores: o pai – um médico e também poeta – assassinou sua esposa e depois suicidou-se. O próprio poeta tentou o suicídio em 1932. Na moldura dessa tela de dor e de desconsolo, a compreensão súbita de que caos e ordem estão imbricados, encadeados, transformando-se dialeticamente um no outro, sendo ambos dignos – cada qual a seu tempo – dos melhores preitos. Senão vejamos a sucessão dos dias e das noites: “Por ora, louvarei as trevas; mas depois a folha”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Conrad Aiken

(1889-1973)

 

The Room

 

Through that window – all else being extinct

Except itself and me – I saw the struggle

Of darkness against darkness. Within the room

It turned and turned, diving downward. Then I saw

How order might – if chaos wished – become:

And saw the darkness crush upon itself,

Contracting powerfully; it was as if

It killed itself slowly: and with much pain.

Pain. The scene was pain, and nothing but pain.

What else, when chaos draws all forces inward

To shape a single leaf?...

 For the leaf came

Alone and shining in the empty room;

After a while the twig shot downward from it;

And from the twig a bough; and then the trunk,

Massive and coarse; and last the one black root.

The black root cracked the walls. Boughs burst the window:

The great tree took possession.

  Tree of trees!

Remember (when time comes) how chaos died

To shape the shining leaf. Then turn, have courage,

Wrap arms and roots together, be convulsed

With grief, and bring back chaos out of shape.

I will be watching then as I watch now.

I will praise darkness now, but then the leaf.

 

O Quarto

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

O Quarto

 

Através daquela janela – tudo o mais extinto

Exceto ela e eu – vi a luta

Das trevas contra as trevas. Dentro do quarto,

Remoinhavam e remoinhavam, engolfando-se para baixo. Logo intuí

Como a ordem poderia – se ao caos apetecesse – sobrevir:

Vi as trevas esmagarem-se sobre si mesmas,

Contraindo-se vigorosamente; era como se estivessem

A se matar lentamente: e com muita dor.

Dor. A cena era de dor, e nada além de dor.

O que mais, quando o caos atrai todas as forças ao seu núcleo,

Para dar forma a uma única folha?...

Pois que a folha apareceu

Sozinha e brilhante no quarto vazio;

Logo depois, um ramo germinou e grassou por baixo dela;

E do ramo, uma fronde; depois o tronco,

Maciço e áspero; e, por fim, uma negra e solitária raiz.

A raiz negra rachou as paredes. A ramagem rebentou a janela:

A grande árvore tomou posse.

Árvore das árvores!

Lembre-se (quando chegada a hora) de como pereceu o caos

Para dar forma à brilhante folha. Então recomponha-se

E tenha coragem, cinja os braços e as raízes, convulsione-se

Com o desconsolo, e da forma faça reaparecer o caos.

Estarei então, como agora, a observar.

Por ora, louvarei as trevas; mas depois a folha.

 

Referência:

 

AIKEN, Conrad. The room. In: UNTERMEYER, Louis. Modern american and british poetry. In two volumes. Volume 1: american. Washington, D.C: Harcourt, Brace and Company, nov. 1944. p. 462. (Education Manual - E.M. n. 131)

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