No ambiente
preferencial de recolhimento, o falante confronta o caos e suas trevas ao momento
sequente de ordem, pejados de maior brilho e luz, em presumível correlação com
os fenômenos da morte e do nascimento, ou mesmo de tormentas psicológicas em
que muitos submergem, para desses pélagos da alma retornarem muito mais
fortalecidos.
Consigne-se que na
biografia de Aiken consta um fato grave ocorrido com os seus genitores: o pai –
um médico e também poeta – assassinou sua esposa e depois suicidou-se. O próprio
poeta tentou o suicídio em 1932. Na moldura dessa tela de dor e de desconsolo,
a compreensão súbita de que caos e ordem estão imbricados, encadeados, transformando-se
dialeticamente um no outro, sendo ambos dignos – cada qual a seu tempo – dos
melhores preitos. Senão vejamos a sucessão dos dias e das noites: “Por ora,
louvarei as trevas; mas depois a folha”.
J.A.R. – H.C.
Conrad Aiken
(1889-1973)
The Room
Through that window –
all else being extinct
Except itself and me
– I saw the struggle
Of darkness against
darkness. Within the room
It turned and turned,
diving downward. Then I saw
How order might – if
chaos wished – become:
And saw the darkness
crush upon itself,
Contracting
powerfully; it was as if
It killed itself
slowly: and with much pain.
Pain. The scene was pain,
and nothing but pain.
What else, when chaos
draws all forces inward
To shape a single
leaf?...
For the leaf came
Alone and shining in
the empty room;
After a while the
twig shot downward from it;
And from the twig a
bough; and then the trunk,
Massive and coarse;
and last the one black root.
The black root
cracked the walls. Boughs burst the window:
The great tree took
possession.
Tree of
trees!
Remember (when time
comes) how chaos died
To shape the shining
leaf. Then turn, have courage,
Wrap arms and roots
together, be convulsed
With grief, and bring
back chaos out of shape.
I will be watching
then as I watch now.
I will praise
darkness now, but then the leaf.
O Quarto
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
O Quarto
Através daquela
janela – tudo o mais extinto
Exceto ela e eu – vi
a luta
Das trevas contra as
trevas. Dentro do quarto,
Remoinhavam e remoinhavam,
engolfando-se para baixo. Logo intuí
Como a ordem poderia –
se ao caos apetecesse – sobrevir:
Vi as trevas esmagarem-se
sobre si mesmas,
Contraindo-se
vigorosamente; era como se estivessem
A se matar
lentamente: e com muita dor.
Dor. A cena era de
dor, e nada além de dor.
O que mais, quando o
caos atrai todas as forças ao seu núcleo,
Para dar forma a uma
única folha?...
Pois que a folha
apareceu
Sozinha e brilhante
no quarto vazio;
Logo depois, um ramo germinou
e grassou por baixo dela;
E do ramo, uma
fronde; depois o tronco,
Maciço e áspero; e,
por fim, uma negra e solitária raiz.
A raiz negra rachou
as paredes. A ramagem rebentou a janela:
A grande árvore tomou
posse.
Árvore das árvores!
Lembre-se (quando
chegada a hora) de como pereceu o caos
Para dar forma à
brilhante folha. Então recomponha-se
E tenha coragem, cinja
os braços e as raízes, convulsione-se
Com o desconsolo, e da
forma faça reaparecer o caos.
Estarei então, como
agora, a observar.
Por ora, louvarei as trevas; mas depois a folha.
Referência:
AIKEN, Conrad. The
room. In: UNTERMEYER, Louis. Modern american and british poetry. In two
volumes. Volume 1: american. Washington, D.C: Harcourt, Brace and Company, nov.
1944. p. 462. (Education Manual - E.M. n. 131)
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