No embate entre memória
e olvido progridem os versos do poema, decerto associáveis ao ocorrido com uma numerosa
legião de judeus durante a 2GM, sendo o autor do poema um austríaco também de
origem judaica: lembrar talvez seja, por mais paradoxal que se nos afigure, uma
das formas mitigadoras para assimilar um passado de dor, levando consigo os desassossegos
da alma.
Na oitava exortação
de “Ad Polybium de Consolatione” (“Consolação
a Políbio”), o filósofo Sêneca recomenda a Políbio, então ministro do
imperador Cláudio, que redija as memórias de seu recém-falecido irmão mais novo,
para imortalizá-lo, em vez de lhe verter lágrimas inúteis: “Fluam as lágrimas,
mas também cessem; arranquem-se gemidos do fundo do peito, mas também se acabem”.
Esse parece ter sido
o propósito do poeta, ao tornar a sua obra um vasto painel catártico a imprecar
contra o esquecimento da aludida barbárie, consciente, ele próprio, de que o
tempo a tudo evanesce e, num dado momento futuro, aquilo que tanto caracterizou
parte de seu propósito de vida se terá esvaído em meio às penumbras da
deslembrança.
J.A.R. – H.C.
Erich Fried
(1921-1988)
Gegen Vergessen
Ich will mich
erinnern
dass ich nicht
vergessen will
denn ich will ich
sein
Ich will mich
erinnern
dass ich vergessen
will
denn ich will nicht
zuviel leiden
Ich will mich
erinnern
dass ich nicht
vergessen will
dass ich vergessen
will
denn ich will mich
kennen
Denn ich kann nicht
denken
ohne mich zu erinnern
denn ich kann nicht
wollen
ohne mich zu erinnern
denn ich kann nicht
lieben
denn ich kann nicht
hoffen
denn ich kann nicht
vergessen
ohne mich zu erinnern
Ich will mich
erinnern
an alles was man
vergisst
denn ich kann nicht
retten
ohne mich zu erinnern
auch mich nicht und
nicht meine Kinder
Ich will mich
erinnern
an die Vergangenheit
und an die Zukunft
und ich will mich
erinnern
wie bald ich
vergessen muss
und ich will mich
erinnern
wie bald ich
vergessen sein werde
Oblívio
(Vanessa Stefanova: artista
búlgaro-australiana)
Contra o Esquecimento
Quero me lembrar
de que não quero
esquecer
pois quero ser eu
mesmo
Quero me lembrar
de que quero esquecer
pois não quero sofrer
muito
Quero me lembrar
de que não quero
esquecer
de que quero esquecer
pois quero me
conhecer
Pois não consigo
pensar
sem me lembrar
pois não consigo
querer
sem me lembrar
pois não consigo amar
pois não consigo ter
esperança
pois não consigo
esquecer
sem me lembrar
Quero me lembrar
de tudo o que foi
esquecido
pois não o consigo resgatar
sem me lembrar
de mim mesmo nem de
meus filhos
Quero me lembrar
do passado e do
futuro
e quero me lembrar
do quão depressa hei
de esquecer
e quero me lembrar
do quão depressa
serei esquecido
Referência:
FRIED, Erich. Gegen vergessen.
In: __________. Gedichte. Ausgewählt und herausgegeben von Klaus
Wagenbach mit einem nachwort des herausgebers. 13. auflage. München, DE: Deutscher
Taschenbuch Verlag, januar 2007. s. 121.
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