Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Erich Fried - Contra o Esquecimento

No embate entre memória e olvido progridem os versos do poema, decerto associáveis ao ocorrido com uma numerosa legião de judeus durante a 2GM, sendo o autor do poema um austríaco também de origem judaica: lembrar talvez seja, por mais paradoxal que se nos afigure, uma das formas mitigadoras para assimilar um passado de dor, levando consigo os desassossegos da alma.

 

Na oitava exortação de “Ad Polybium de Consolatione” (“Consolação a Políbio”), o filósofo Sêneca recomenda a Políbio, então ministro do imperador Cláudio, que redija as memórias de seu recém-falecido irmão mais novo, para imortalizá-lo, em vez de lhe verter lágrimas inúteis: “Fluam as lágrimas, mas também cessem; arranquem-se gemidos do fundo do peito, mas também se acabem”.

 

Esse parece ter sido o propósito do poeta, ao tornar a sua obra um vasto painel catártico a imprecar contra o esquecimento da aludida barbárie, consciente, ele próprio, de que o tempo a tudo evanesce e, num dado momento futuro, aquilo que tanto caracterizou parte de seu propósito de vida se terá esvaído em meio às penumbras da deslembrança.

 

J.A.R. – H.C.

 

Erich Fried

(1921-1988)

 

Gegen Vergessen

 

Ich will mich erinnern

dass ich nicht vergessen will

denn ich will ich sein

Ich will mich erinnern

dass ich vergessen will

denn ich will nicht zuviel leiden

Ich will mich erinnern

dass ich nicht vergessen will

dass ich vergessen will

denn ich will mich kennen

Denn ich kann nicht denken

ohne mich zu erinnern

denn ich kann nicht wollen

ohne mich zu erinnern

denn ich kann nicht lieben

denn ich kann nicht hoffen

denn ich kann nicht vergessen

ohne mich zu erinnern

Ich will mich erinnern

an alles was man vergisst

denn ich kann nicht retten

ohne mich zu erinnern

auch mich nicht und nicht meine Kinder

Ich will mich erinnern

an die Vergangenheit und an die Zukunft

und ich will mich erinnern

wie bald ich vergessen muss

und ich will mich erinnern

wie bald ich vergessen sein werde

 

Oblívio

(Vanessa Stefanova: artista búlgaro-australiana)

 

Contra o Esquecimento

 

Quero me lembrar

de que não quero esquecer

pois quero ser eu mesmo

Quero me lembrar

de que quero esquecer

pois não quero sofrer muito

Quero me lembrar

de que não quero esquecer

de que quero esquecer

pois quero me conhecer

Pois não consigo pensar

sem me lembrar

pois não consigo querer

sem me lembrar

pois não consigo amar

pois não consigo ter esperança

pois não consigo esquecer

sem me lembrar

Quero me lembrar

de tudo o que foi esquecido

pois não o consigo resgatar

sem me lembrar

de mim mesmo nem de meus filhos

Quero me lembrar

do passado e do futuro

e quero me lembrar

do quão depressa hei de esquecer

e quero me lembrar

do quão depressa serei esquecido

 

Referência:

 

FRIED, Erich. Gegen vergessen. In: __________. Gedichte. Ausgewählt und herausgegeben von Klaus Wagenbach mit einem nachwort des herausgebers. 13. auflage. München, DE: Deutscher Taschenbuch Verlag, januar 2007. s. 121.

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