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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Carlos Drummond de Andrade - Poema da purificação

Um poema extraído ao primeiro poemário de Drummond – “Alguma Poesia”, de 1930 –, que, à primeira vista, parece-nos singelo demais para a lavra do poeta mineiro, mas que carrega um sentido relevante quando se o interpreta a desvelar o embate que se processa no humano espírito entre as forças do bem e as do mal, ou – como diria Freud – entre as pulsões da vida e as da morte, entre Eros e Thanatos.

 

Catarse é tudo a que se referem os versos, desde o título atribuído pelo autor ao poema: no ponto de chegada, outra parte de nós, que nos sutura as lesões, cobrindo-as com “pensos” (curativos) – o “pensar” do penúltimo verso alude a uma tal ação –, para que, em síntese, possa surgir o homem puro, enquanto luz que ilumina o mundo (Mt. 5:13).

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Drummond de Andrade

(1902-1987)

 

Poema da Purificação

 

Depois de tantos combates

o anjo bom matou o anjo mau

e jogou seu corpo no rio.

 

As águas ficaram tintas

de um sangue que não descorava

e os peixes todos morreram.

 

Mas uma luz que ninguém soube

dizer de onde tinha vindo

apareceu para clarear o mundo,

e outro anjo pensou a ferida

do anjo batalhador.

 

Os anjos bom e mau

(William Blake: poeta e artista inglês)

 

Referência:

 

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poema da purificação. In: __________. Alguma poesia. Posfácio de o Eucanaã Ferraz. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2013. p. 78.

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