Muitos são os poemas
de Hesse que dizem respeito aos temas da brevidade da vida, da memória e da
ligação com o passado, a exemplo deste: nas metáforas que se associam ao irromper
do ocaso, pode-se vislumbrar o estado d’alma saudosista do falante, a relembrar
os verdes anos da infância e da juventude, quando já vai a meio a década que
precede a casa dos sessenta.
Por trás dessa “névoa
da aurora” que tende a se atualizar, pressente-se um apegado anelo pelo perene,
a despeito de a voz lírica perceber com clareza o ciclo do “florir” e do “murchar”,
presente neste “amplo jardim de Deus”, como se tencionasse ratificar, sob tal
dicção, a ideia de que somos a gleba sobre a qual o Eterno leva à frente a sua contínua
obra de criação.
J.A.R. – H.C.
Hermann Hesse
(1877-1962)
Rückgedenken
Am Hang die
Heidekräuter blühn,
Der Ginster starrt in
braunen Besen.
Wer weiß heut noch,
wie flaumiggrün
Der Wald im Mai
gewesen?
Wer weiß heut noch,
wie Amselsang
Und Kuckucksruf
einmal geklungen?
Schon ist, was so
bezaubernd klang,
Vergessen und
versungen.
Im Wald das
Sommerabendfest,
Der Vollmond überm
Berge droben,
Wer schrieb sie auf,
wer hielt sie fest?
Ist alles schon
zerstoben.
Und bald wird auch
von dir und mir
Kein Mensch mehr
wissen und erzählen,
Es wohnen andre Leute
hier,
Wir werden keinem fehlen.
Wir wollen auf den
Abendstern
Und auf die ersten
Nebel warten.
Wir blühen und
verblühen gern
In Gottes großem
Garten.
(9.8.1933)
Jardim dos Deuses
(Cindy Welch: pintora
norte-americana)
Retrospecto
Na encosta vão
desabrochando as urzes
e a giesta se eriça
em tufos pardos:
quem é que lembra
ainda o verdejante
frouxel do bosque em
maio?
Quem lembra ainda
como é que soavam
o pio do cuco e o
canto do melro?
O que era som de
tanto encantamento
está findo e
esquecido.
A festa da tarde
estival na mata
com lua cheia em cima
da montanha,
quem anotou? Quem
fixou? Quem guardou?
Tudo está terminado.
Também de ti e de
mim, daqui a pouco
ninguém há de
lembrar-se nem falar:
outros virão morar
aqui e ninguém
sentirá nossa falta.
Esperamos pela névoa
da aurora
e pela estrela da
tarde nos céus:
de bom grado florimos
e murchamos
no amplo jardim de
Deus.
(9.8.1933)
Referências:
Em Alemão
HESSE, Hermann. Rückgedenken.
In: __________. Die gedichte: 1892-1962. 19. auflage. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp, 1977. s. 618.
Em Português
HESSE, Hermann. Retrospecto. Tradução de Geir Campos. In: __________. Andares: antologia poética. Tradução e prólogo de Geir Campos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, jan. 1976. p. 173.
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