Os componentes
descritivos deste poema de Trakl revelam plena familiaridade do poeta com os
elementos rituais e as celebrações litúrgicas cristãs, muito embora seus fundamentos
ou significados originais pareçam aqui algo demudados, diante do notório ceticismo
acerca do que lhe parece ser uma vã esperança num Deus de graça e redenção.
Sem pretensão de
cotejar os elementos expressionistas da poesia de Trakl com os notórios ingredientes
simbolistas presentes nas obras de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, não
há como se deixar de constatar o quanto se se assemelha a imagística religiosa a
que tais poetas recorrem – exceto, é claro, o sobredito acento de incredulidade
e pessimismo do autor austríaco.
J.A.R. – H.C.
Georg Trakl
(1887-1914)
Die tote Kirche
Auf dunklen Bänken
sitzen sie gedrängt
Und heben die
erloschnen Blicke auf
Zum Kreuz. Die
Lichter schimmern wie verhängt,
Und trüb und wie
verhängt das Wundenhaupt.
Der Weihrauch steigt
aus güldenem Gefäß
Zur Höhe auf,
hinsterbender Gesang
Verhaucht, und
ungewiß und süß verdämmert
Wie heimgesucht der
Raum. Der Priester schreitet
Vor den Altar; doch
übt mit müdem Geist er
Die frommen Bräuche –
ein jämmerlicher Spieler,
Vor schlechten Betern
mit erstarrten Herzen,
In seelenlosem Spiel
mit Brot und Wein.
Die Glocke klingt!
Die Lichter flackern trüber –
Und bleicher, wie
verhängt das Wundenhaupt!
Die Orgel rauscht! In
toten Herzen schauert
Erinnerung auf! Ein
blutend Schmerzensantlitz
Hüllt sich in
Dunkelheit und die Verzweiflung
Starrt ihm aus vielen
Augen nach ins Leere.
Und eine, die wie
aller Stimmen klang,
Schluchzt auf – indes
das Grauen wuchs im Raum,
Das Todesgrauen wuchs:
Erbarme dich unser –
Herr!
In: “Nachlass – Sammlung” (1909)
Capela em Dogwood
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
A Igreja morta
Sentam-se amontoados
em bancos escuros
E erguem os seus desvanecidos
olhares
Até a cruz. Os círios
brilham como se velados,
Tornando baça e
mortiça a cabeça ferida.
Eleva-se às alturas o
incenso de um dourado
Turíbulo, um canto
agonizante se dispersa,
E incerta e docemente
o recinto entenebrece,
Como que assombrado. O
sacerdote move-se diante
Do altar; contudo, ministra
com espírito cansado
Os ritos piedosos – um
deplorável intérprete
ante maus devotos de
corações enregelados,
numa fria representação
com pão e vinho.
Reboa o sino! Os
círios bruxuleiam tenuemente –
E mais pálida, quão
velada acha-se a cabeça ferida!
O órgão murmura! Em
corações exânimes
A memória estremece!
Um rosto sangrento de dor
Deixa-se envolver na
escuridão e o desespero
Mira-o fixamente mediante
o vazio de muitos olhos.
E uma voz, que soava
como todas as outras,
Pôs-se a soluçar –
enquanto o horror crescia no recinto,
Expandia-se o horror
da morte: Tem piedade de nós –
Senhor!
Em: “Obra Póstuma – Coletânea” (1909)
Referência:
TRAKL, Georg. Die tote kirche. In: __________. Dichtungen und briefe.
Herausgegeben von Walther Killy und Hans Szklenar. Salzburg, AT: Otto Müller
Verlag Salzburg, 1969. s. 256.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário