Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Chacal - o poeta que há em mim

O poeta que há no falante – também profeta, panfleta, pateta – afirma-se pela negação a paralelos qualificados com sentidos despectivos – respectivamente, um burocrata escrivão, uma cartomante cigana, um jornalista de matéria paga, um esteta sentinela de valores iluministas –, haja vista que se pretende menos tolhido em seu voo rumo ao “homem pressentido”.

 

Percebe-se, desse modo, um exercício da lírica menos propenso a seguir regras clássicas ou convencionais – como as insertas em manuais de poética, as quais acabam por confinar o poeta num jogo de “transpiração” –, pois que os “voos de imaginação” são o que, presumivelmente, interessam ao enunciador do discurso, com toda a abertura possível ao improviso que a “inspiração” possa suscitar a cada momento.

 

J.A.R. – H.C.

 

Chacal

Ricardo de Carvalho Duarte

(n. 1951)

 

o poeta que há em mim

 

o poeta que há em mim

não é como o escrivão que há em ti

funcionário autárquico

 

o profeta que há em mim

não é como a cartomante que há em ti

cigana fulana

 

o panfleta que há em mim

não é como o jornalista que há em ti

matéria paga

 

o pateta que há em mim

não é como o esteta que há em ti

cana a la kant

 

o poeta que há em mim

é como o voo no homem pressentido

 

Muitas faces

(Ernest Budu: artista ganês)

 

Referência:

 

CHACAL. o poeta que há em mim. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). 26 poetas hoje: antologia. 6. ed. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano Editora, 2007. p. 220.

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