Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Yiánnis Ritsos - Operário da Palavra

Com um título a emular certa linhagem textual marxista – com efeito, Ritsos chegou a filiar-se ao partido comunista grego –, tem-se aqui o orador a falar de alguém, decerto o próprio poeta, que dedicou sua vida ao trato com a palavra, isto é, à produção literária, “quase com fé na imortalidade e na sua própria imortalidade”.

 

Ainda que pressentindo a comparência do olvido e da morte, persiste o literato entre a “futilidade e a altivez”, porque, para quem nasceu com o dom da antevisão, não pode jamais assombrar-se com as “batidas do relógio” a ritmar, em auras de escuridade, o passo daqueles que, “sonolentos”, marcham “entre duas batalhas”, s.m.j., a da vida e a da morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Yiánnis Ritsos

(1909-1990)

 

Εργάτης του Λόγου

 

Δούλεψε σ’ όλη τη ζωή σκληρά, ανεπιφύλαχτα,

με θέρμη, μ’ έξαρση, σχεδόν με πίστη στην αθανασία

και στην αθανασία του, βέβαια. Ώσπου μια νύχτα,

φύσηξε ξαφνικός αγέρας. Χτύπησε μόνη της η πόρτα.

Είδε τ’ αγάλματα να πέφτουν μπρούμυτα. Κατάλαβε.

Οι λέξεις που ‘χε γράψει έτσι ζεστά, χρόνια και χρόνια,

κοκκάλωσαν, τις ένοιωσε κάτω απ’ τα δάχτυλά του

σαν το ζεστό και ουδέτερο τρίχωμα ενός ζώου πεθαμένου.

 

Την άλλη μέρα, ωστόσο, συνέχισε κανονικά τη δουλειά του

κι έφτασε να συγχέει αθανασία και θάνατο, μέθη και λήθη,

μα ξεκαθάρισε με ακρίβεια τι είναι εργασία

ανάμεσα σε ματαιότητα και περηφάνεια. Κι ο χτύπος

του ρολογιού, είχε τον ήχο ενός τυμπάνου μες στη νύχτα,

ρυθμίζοντας την πορεία νυσταγμένων στρατιωτών

ανάμεσα σε δυο μάχες.

 

Σε: “Ασκήσεις” (1950-1960)

 

O Escritor

(Périclès Pantazis: pintor grego)

 

Operário da Palavra

 

Trabalhou a vida toda duramente, incondicionalmente,

com ardor, com arrebatamento, quase com fé na imortalidade

e na sua própria imortalidade, decerto. Até que certa noite

soprou um vento repentino. A porta se fechou por si mesma.

Viu as estátuas tombarem de frente. Compreendeu.

As palavras que escreveu assim, ano após ano,

enrijeceram; sentiu-as sob os dedos

como o pelo seco e neutro de um bicho morto.

 

No outro dia, contudo, retomou regularmente seu trabalho

e chegou a confundir imortalidade e morte, embriaguez e olvido,

mas esclareceu com rigor o que é trabalho

entre futilidade e altivez. E as batidas

do relógio tinham o som de um tambor dentro da noite

ritmando a marcha de soldados sonolentos

entre duas batalhas.

 

Em: “Exercícios” (1950-1960)

 

Referências:

 

Em Grego

 

Ρίτσος, Γιάννης. Εργάτης του λόγου. Disponível neste endereço. Acesso em: 2 jun. 2023.

 

Em Português

 

RITSOS, Yiánnis. Operário da palavra. Tradução de José Paulo Paes. In: PAES, José Paulo (Seleção, tradução direta do grego, prefácio, textos críticos e notas). Poesia moderna da Grécia. Rio de Janeiro, RJ: Editora Guanabara, 1986. p. 202.

Nenhum comentário:

Postar um comentário