O poeta reflete sobre
o estado de eversão do império britânico, o que então resultava do agir
insolente de seus mandatários frente a emissários de terceiras nações
colonizadas – pode-se até mesmo presumir incursões de delegações indianas a
Londres –, tudo a fomentar cizânias capazes de deflagar conflitos, armados ou
não.
A voz lírica se
questiona sobre as razões que fundamentam um modo de condução tão jupiteriano de
seus pares: em face de “nossas curtas e problemáticas vidas”, quase nada importa,
estando elas à mercê de alguma “equação assombrosa ou experiência mística” que
as desvende. Ou ainda, como arremata o falante, “estejamos todos mortos em segurança,
antes que algo realmente venha a suceder”, como iminente corolário – se poderia
aduzir – de um tal regime reprovável de dominação.
J.A.R. – H.C.
Roy Fuller
(1912-1991)
Meditation
Now the ambassadors
have gone, refusing
Our gifts, treaties,
anger, compliance;
And in their place
the winter has arrived,
Icing the
culture-bearing water.
We brood in our
respective empires on
The words we might
have said which would have breached
The Chinese wall
round our superfluous love
And manufactures. We
do not brood too deeply.
There are our
friends’ perpetual, subtle demands
For understanding:
visits to those who claim
To show us what is
meant by death,
And therefore life,
our short and puzzling lives,
And to explain our
feelings when we look
Through the dark sky
to other lighted worlds –
The well-shaved
owners of sanatoria,
And raving, grubby
oracles: the books
On diet, posture,
prayer and aspirin art:
The claims of
frightful weapons to be investigated:
Mad generals to be
promoted: and
Our private gulfs to
slither down in bed.
Perhaps in spring the
ambassadors will return.
Before then we shall
find perhaps that bombs,
Books, people,
planets, worry, even our wives,
Are not at all
important. Perhaps
The preposterous
fishing-line tangle of undesired
Human existence will
suddenly unravel
Before some
staggering equation
Or mystic experience,
and God be released
From the moral
particle or blue-lit room.
Or, better still,
perhaps we shall, before
Anything really
happens, be safely dead.
Meditação
(Nilesh Nikam: artista
indiano)
Meditação
Agora os embaixadores
partiram, recusando
Nossos presentes,
tratados, ira e submissão;
Para substituí-los
chegou o inverno
Congelando a água e
suas culturas.
Repisamos em nossos
respectivos impérios
O que poderíamos ter
dito e teria fraturado
A muralha chinesa que
cerca nosso amor supérfluo,
Nossas manufaturas.
Mas não repisamos demais.
Há os pedidos –
perpétuos, sutis – que amigos fazem
Para compreendermos:
visitas aos que pretendem
Ter ensinado o que
significa a morte
E portanto a vida,
nossas curtas e problemáticas vidas,
E explicado nossos
sentimentos quando vemos
Através do céu escuro
outros mundos iluminados...
Os donos bem
barbeados de sanatórios
E de enfadonhos,
delirantes oráculos: os livros
Sobre dieta, orações,
postura, a arte da aspirina!
O argumento de armas
terríveis a investigar,
Generais loucos a
promover,
Nossos golfos
privados a estender na cama.
Talvez na primavera
os embaixadores retornem.
E talvez tenhamos
aprendido que bombas,
Livros, povo, planetas, cuidados e talvez nossas mulheres,
Nada importam. Talvez
A desordenada linha
de pesca da indesejada
Existência humana
súbito se desenrede
Ante uma perturbadora
equação
Ou uma experiência
mística – e Deus seja remido
De qualquer partícula
moral ou aposentos azulados.
Ou, melhor ainda,
antes que algo realmente aconteça,
Talvez estejamos a
salvo, mortos.
Referência:
FULLER, Roy.
Meditation / Meditação. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Jorge
(Organização, Tradução e Notas). 22 ingleses modernos: uma antologia
poética. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1993. Em inglês: p. 120 e
122; em português: p. 121 e 123.
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