Nada de poemas redigidos
por meio de aplicativos de computador, visualizados num frio ecrã, carregados
de efeitos visuais e sonoros: o que o poeta mexicano mais deseja é prosseguir
na redação manual dos versos sobre a página em branco – mesmo que seja o último
dos vates a se manter fiel ao modo tradicional da criação lírica.
Alega ele que a
página não é mero suporte para o poema, senão a sua “casa e carne”, possibilitando
a síntese unitária do duo “poeta x poesia”, num corpo onde se imbricam palavras
e letras, significantes e significados, tanto mais que grafados com a escrita
personalíssima de cada qual que se propõe a fazer da poesia um meio de expressão
desse pasmo de viver.
J.A.R. – H.C.
José Emilio Pacheco
(1939-2014)
Página
Gracias, mil gracias,
todo está muy bien.
Celebro lo que hacen
y lo agradezco.
Me gustan mi laptop y
mi laserprinter.
Pero soy como soy y
no son para mí
poemas en pantalla ni
a muchas voces
ni con animaciones
electrónicas.
Me quedo (aunque sea
el último) con el papel.
La página no es, como
se dice ahora, un soporte:
es la casa y la carne
del poema.
Allí sucede aquel
íntimo encuentro
que hace de otras
palabras tu mismo cuerpo
y te vuelve uno solo
con lo que dicen sus letras.
O bloco do escritor
(Wayne Pascall:
artista norte-americano)
Página
Obrigado, mil vezes
obrigado, tudo está muito bem.
Celebro o que fazem e
tenho a agradecer-lhes.
Gosto de meu laptop e
de minha impressora a laser.
Mas sou o que sou e poemas
não são para mim
quando em tela, nem a
muitas vozes
nem com animações
eletrônicas.
Prossigo (ainda que
seja o último) com o papel.
A página não é, como
agora se diz, um suporte,
senão a casa e a
carne do poema.
O lugar onde ocorre
aquele íntimo encontro
que faz de outras
palavras teu próprio corpo
e torna-te um somente
com o que as suas letras dizem.
Referência:
PACHECO, José Emilio. Página. In: __________. Siglo pasado (desenslace): poemas / 1999-2000. 1. ed., 1. reimp. México, D.F.: Ediciones Era, nov. 2000. p. 16.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário