Talvez já meio
distante do lugar onde teria nascido, o poeta moçambicano canta loas à
terra-mãe, ainda que esta se mantenha a padecer sob carências, à força de
imposições daqueles que promovem o que quer que seja para que o amanhã se torne
“imutável”: são saudades dos “irmãos marginalizados”, “coagidos a desdizer e
abandonar os seus valores”.
Mais que uma “casa”
em sentido literal, trata-se da “morada” onde habitam os pares, a quem não são
concedidas oportunidades para que atravessem “o rio da ignorância”. Lá, como
aqui, milhões ficam a espreitar o outro lado do rio, debalde sonhando com um dia
em que suas expectativas de melhores condições de vida venham a se concretizar.
J.A.R. – H.C.
Ozias Cambanje
(n. 1º/1/1990)
Saudades de Minha
Casa
Saudades de minha
casa
Aquela coberta de
capim indescritível
Que penetra água
quando chove...
Sinto estonteantes
saudades de minha casa
Saudades seguidas de
raiva no meu espírito
Com os que pensam no
amanhã imutável.
Saudades...
São intrigantes
saudades da minha palhota de capim,
Aquela pequena e
empenada pelos bois dos santificados.
São saudades
excitantes dos meus irmãos marginalizados,
Negados e arruinados
pelos novos gigantes,
Coagidos a desdizer e
abandonar os seus valores.
Sinto saudades apenas
de minha casa,
Aquela pequena mas,
sem diálogo.
Coscuvilhando-me
pelos meus irmãos ditos sem escola,
E, interditos a
atravessar o rio da ignorância.
Como em nenhum outro
lugar
(Jessica Baron:
pintora irlandesa)
Referência:
CAMBANJE, Ozias.
Saudades de minha casa. In: MWANAKA, Tendai R.; MALA, Nsah (Eds.). Best “new”
african poets 2019: anthology / Meilleures “nouveaux” poètes Africains
2019: anthologie / Melhores “novos” poetas africanos 2019:
antologia. Harare (Chitungwiza), ZW: Mwanaka Media and Publishing Pvt, 2019. p.
249. Disponível neste
endereço. Acesso em: 20 jun. 2023.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário