Entremeado com
passagens em inglês, transcritas dos ensaios de Ralph W. Emerson (1803-1882) e por
mim grafadas em itálico, as quais, em notas, verto-as ao português, os versos
de Alexandre entram em sintonia com os pensamentos do norte-americano sobre o
estar a sós e abraçar um mundo de belezas junto à natureza.
Nota-se nos versos
certa orientação a formular a ideia de que cada um deve afirmar a importância
de pensar por si mesmo, em vez de aceitar passivamente as ideias de terceiros.
Com efeito, a natureza não se compõe apenas de tudo quanto nos rodeia, senão
também – e mais importante – de nossas naturezas individuais. Por que, então,
não as tornar robustas e produtivas, para o nosso proveito e de quantos estão
conosco nesta caminhada?!
J.A.R. – H.C.
António Franco
Alexandre
(n. 1944)
Emersoniana
A oeste são os
planaltos, a vida selvagem
que um véu de água
recolhe,
um horizonte de
coisas por dizer, por acontecer
mas a verdade mais
abstracta é a mais práctica:
let him look at the
stars (1). tão longe
do seu próprio quarto
como da multidão.
por isso os
selvagens, que não têm mais
que o necessário,
conversam em figuras.
esta dependência
imediata da linguagem
esta radical
correspondência das coisas visíveis
nunca perde o poder
de afectar-nos.
devemos ir sós, vivos
e sós. i must
be myself (2).
todo quanto Adão
teve, o céu a terra a sua casa,
tudo podes e tens.
keep thy state; come not into
their confusion (3).
constrói, sim, o teu
reino, o teu mundo: natureza.
Em: “As Moradas 1
& 2” (1987)
Alvorecendo: costa da
Sicília
(Andreas Achenbach:
pintor alemão)
Notas:
(1). “deixe-o contemplar as estrelas” [excerto da parte introdutória do
ensaio “Nature” (“Natureza”)];
(2). “devo ser eu mesmo” [excerto do ensaio “Self-Reliance” (“Autossuficiência”)];
(3). “mantenha seu estado; não entre na confusão deles” [idem].
Referência:
ALEXANDRE, António Franco. Emersoniana. In: CASTRO, Mario Morales (Organización y Traducción). Antología breve de la poesía portuguesa del siglo XX. Edición bilingüe: portugués x español. 1. ed. México, D.F.: Instituto Politécnico Nacional, 1998. p. 354.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário