Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Hans Magnus Enzensberger - Os Desaparecidos

O poeta empenha-se aqui em expor o desamparo daqueles que não puderam prantear seus mortos de forma adequada, vítimas que foram de um conflito bélico generalizado (2GM), enquanto civis que nada tinham a ver com ela – judeus, ciganos e outras etnias nômades. Nessa toda, Enzensberger alinha a temática poética às imagens e aos motivos expressos na obra da poetisa alemã de ascendência judaica Nelly Sachs (1891-1970) – a quem o poema é dedicado.

 

O desaparecimento indiferenciado, em face da “redução ao pó”, denota a drasticidade da aniquilação então perpetrada, ensejando o “esquecimento em massa”: os contornos líricos acabam, por isso mesmo, confrangidos nos versos, pois que, para abordar conteúdo tão perverso quanto perseguições e extermínios, somente o recurso ao choque, à execração, à soturnidade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hans M. Enzensberger

(n. 1929)

 

Die Verschwundenen

für Nelly Sachs

 

Nicht die Erde hat sie verschluckt. War es die Luft?

Wie der Sand sind sie zahlreich, doch nicht zu Sand

sind sie geworden, sondern zu nichte. In Scharen

sind sie vergessen. Häufig und Hand in Hand,

 

wie die Minuten. Mehr als wir,

doch ohne Andenken. Nicht verzeichnet,

nicht abzulesen im Staub, sondern verschwunden

sind ihre Namen, Löffel und Sohlen.

 

Sie reuen uns nicht. Es kann sich niemand

auf sie besinnen: Sind sie geboren,

geflohen, gestorben? Vermißt

sind sie nicht worden. Lückenlos

ist die Welt, doch zusammengehalten

von dem was sie nicht behaust,

von den Verschwundenen. Sie sind überall.

 

Ohne die Abwesenden wäre nichts da.

Ohne die Flüchtigen wäre nichts fest.

Ohne die Vergessenen nichts gewiß.

 

Die Verschwundenen sind gerecht.

So verschallen wir auch.

 

Trincheiras

(Otto Dix: pintor alemão)

 

Os Desaparecidos

a Nelly Sachs

 

Não foi a terra que os engoliu. Foi o ar?

Tão numerosos como a areia, mas não se tornaram

areia, e sim nada. Em massa

foram esquecidos. Muitas vezes, de mãos dadas,

 

como os minutos. Mais do que nós,

porém sem memória. Não registrados,

não decifráveis no pó, mas desaparecidos

seus nomes, colheres e solas.

 

Não nos fazem arrepender. Ninguém

os lembra: nasceram,

fugiram, morreram? Saudade deles

não se sente. Sem vazios

é o mundo, porém seguro

pelos que não moram nele,

os desaparecidos. Eles estão em todas as partes.

 

Sem os ausentes não haveria nada.

Sem os fugitivos nada seria firme.

Sem os esquecidos nada seria certo.

 

Os desaparecidos são justos.

Assim também se vão nossos búzios.

 

Referência:

 

ENZENSBERGER, Hans Magnus. Die verschwundenen / Os desaparecidos. Tradução de Kurt Scharf e Armindo Trevisan. In: __________. Eu falo dos que não falam: antologia. Edição bilíngue. Seleção dos textos de Kurt Scharf. Tradução de Kurt Scharf e Armindo Trevisan. Prefácio de Bärbel Gutzat. São Paulo, SP: Brasiliense, 1985. Em alemão e em português: p. 39.

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