Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de junho de 2023

Jorge de Sena - Um Epílogo

Chegar a um epílogo, para o poeta, é quase uma improbabilidade, porque a um poema logo sucede outro, tanto mais que, por mais longo que seja, um poema nunca diz tudo o que deveria ou poderia dizer, dado o manancial “compulsivo” a borbulhar na mente do criador, jamais a deixá-lo “satisfeito” com o já produzido.

 

Sena nos fala do que se reitera na “nova gravidez da Vida” – essa “prostituta ingênua” de circunstantes “olhos maternais” –, ante o “mundo novo” que se ergue a cada dia. Ora ora, o que então se poderia dizer senão que “a esperança equilibrista / sabe que o show de todo artista / tem que continuar”?! (A.B. & J.B.)

 

J.A.R. – H.C.

 

Jorge de Sena

(1919-1978)

 

Um Epílogo

 

Quando estes poemas parecerem velhos,

e for risível a esperança deles:

já foi atraiçoado então o mundo novo,

ansiosamente esperado e conseguido

– e são inevitáveis outros poemas novos,

sinal da nova gravidez da Vida

concebendo, alegre e aflita, mais um mundo novo,

só perfeito e belo aos olhos de seus pais.

 

E a Vida, prostituta ingénua,

terá, por momentos, olhos maternais.

 

Em: “Coroa da Terra” (1946)

 

Poema Floral

(Victoria Arnaud: pintora francesa)

 

Referência:

 

SENA, Jorge de. Um epílogo. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena. Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes, 1979. p. 29.

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