Chegar a um epílogo,
para o poeta, é quase uma improbabilidade, porque a um poema logo sucede outro,
tanto mais que, por mais longo que seja, um poema nunca diz tudo o que deveria
ou poderia dizer, dado o manancial “compulsivo” a borbulhar na mente do
criador, jamais a deixá-lo “satisfeito” com o já produzido.
Sena nos fala do que
se reitera na “nova gravidez da Vida” – essa “prostituta ingênua” de
circunstantes “olhos maternais” –, ante o “mundo novo” que se ergue a cada dia.
Ora ora, o que então se poderia dizer senão que “a esperança equilibrista /
sabe que o show de todo artista / tem que continuar”?! (A.B. & J.B.)
J.A.R. – H.C.
Jorge de Sena
(1919-1978)
Um Epílogo
Quando estes poemas
parecerem velhos,
e for risível a
esperança deles:
já foi atraiçoado
então o mundo novo,
ansiosamente esperado
e conseguido
– e são inevitáveis
outros poemas novos,
sinal da nova
gravidez da Vida
concebendo, alegre e
aflita, mais um mundo novo,
só perfeito e belo
aos olhos de seus pais.
E a Vida, prostituta
ingénua,
terá, por momentos,
olhos maternais.
Em: “Coroa da Terra”
(1946)
Poema Floral
(Victoria Arnaud: pintora
francesa)
Referência:
SENA, Jorge de. Um
epílogo. In: __________. Versos e alguma prosa de Jorge de Sena.
Prefácio e selecção de textos de Eugénio Lisboa. Lisboa, PT: Arcádia e Moraes,
1979. p. 29.
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