Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Nelly Sachs - Quantas Pátrias

Os versos de Sachs soam como uma predição sobre os nossos dias, nos quais a figura do refugiado tornou-se dominante em muitas regiões de conflito: note-se a inflexão de indiferença assente nos versos, por parte daqueles que poderiam dar um trato político atenuante à conjuntura – vale dizer, de um destino incógnito, no mais das vezes desventuroso, para levas de exilados.

 

Para a poetisa, alemã de origem judaica, poderiam ser evocadas as eloquentes palavras do Êxodo 22:21, orientadas à compaixão e à expressão de solidariedade ao próximo: “Não maltratareis nem oprimireis nenhum estrangeiro, pois vós mesmos fostes estrangeiros nas terras do Egito”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Nelly Sachs

(1891-1970)

 

Wie viele Heimatländer

 

Wie viele Heimatländer

spielen Karten in den Lüften

wenn der Flüchtling durchs Geheimnis geht

 

wie viel schlafende Musik

im Gehölz der Zweige

wo der Wind einsam

den Geburtenhelfer spielt.

 

Blitzgeöffnet

sät

Buchstaben-Springwurzelwald

in verschlingende Empfängnis

Gottes erstes Wort.

 

Schicksal zuckt

in den blutbefahrenen Meridianen einer Hand –

 

Alles endlos ist

und an Strahlen

einer Ferne aufgehängt –

 

Im: “Flucht und Verwandlung” (1959)

 

Os Retirantes

(Candido Portinari: pintor paulista)

 

Quantas Pátrias

 

Quantas pátrias

jogam cartas no ar

enquanto o refugiado transita pelo mistério

 

quanta música adormecida

no frondoso bosque

onde o vento solitário

interpreta a parteira.

 

Um pérvio relâmpago

semeia

o alfabeto-rebento do bosque primaveril

numa concepção voraz

da primeira palavra de Deus.

 

O destino tem espasmos

nos meridianos percorridos pelo sangue de uma mão –

 

Tudo é infinito

e pendente de irradiações

a distância –

 

Em: “Fuga e Transfiguração” (1959)

 

Referência:

 

SACHS, Nelly. Wie viele heimatländer. In: __________. Fahrt ins staublose: die gedichte der Nelly Sachs. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp Verlag, 1961. s. 313.

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