Numa sucessão
anafórica de declarações no formato “se => então”, o falante, aparentemente,
dirige-se a alguém do seu círculo íntimo de relacionamentos, despertando no leitor
certas expectativas de um conteúdo mais ou menos lógico no correr dos versos, mas
que, ao fim e ao cabo, se nos revela bem mais privativo de suas experiências de
ventura e de felicidade.
Sentir-se protegido e
benquisto, a despeito de nossas vulnerabilidade e limitações, em companhia daqueles
que nos prezam – esposo(a), filho(a), amigo(a), irmão(ã) –, são cláusulas que
nos permitem carregar “o segredo da vida no bolso”. Estando elas presentes, a
passagem do tempo e a paisagem exterior logo passam a ostentar, a cada passo,
contornos de surpresa e de fascinação.
J.A.R. – H.C.
Gerald Stern
(n. 1925)
If You Saw Me Walking
If you saw me walking
one more time on the island
you would know how
much the end of August meant to me;
and if you saw me
singing as I slid over the wet stones
you would know I was
carrying the secret of life in my hip pocket.
If my lips moved too
much
you would follow one
step behind to protect me;
if I fell asleep too
soon
you would cover me in
light catalpa or dry willow.
Oh if I wore a brace
you would help me, if I stuttered
you would hold my
arm; if my heart beat with fear
you would throw a
board across the channel, you would put
out a hand to catch
me, you would carry me on your back.
If you saw me swim back
and forth through the algae
you would know how
much I love the trees floating under me;
and if you saw me
hold my leaf up to the sun
you would know I was
still looking for my roots;
and if you saw me
burning wood
you would know I was
trying to remember the smell of maple.
If I rushed down the
road buttoning my blue shirt –
if I left without
coffee – if I forgot my chewed-up pen –
you would know there
was one more day of happiness
before the water rose
again for another year.
Estudo para homem
caminhando
ao longo da praia
(David Pott: pintor
inglês)
Se Me Visses
Passeando
Se me visses
passeando uma vez mais pela ilha,
saberias o quanto
significou para mim o final de agosto;
e se me visses
cantando enquanto resvalava sobre pedras molhadas,
saberias que levava o
segredo da vida em meu bolso traseiro.
Se meus lábios se
movessem demais,
seguirias um passo
atrás para me proteger;
se adormecesse cedo
demais,
me cobririas com leves
folhas de catalpa ou de salgueiro seco.
Oh, se usasse uma
órtese, me ajudarias; se gaguejasse,
segurarias meu braço;
se meu coração palpitasse com medo,
lançarias uma tábua
até o outro lado do canal, estenderias
uma mão para me
apanhar, me carregarias nas costas.
Se me visses nadando
de um lado a outro entre algas,
saberias o quanto aprecio
as árvores que flutuam debaixo de mim;
se me visses
segurando minhas folhas contra o sol,
saberias que ainda estava
à procura de minhas raízes;
e se me visses
queimando lenha,
saberias que estava
tratando de recordar o cheiro do bordo.
Se irrompesse pela
estrada abotoando minha camisa azul –
se saísse sem tomar
café – se esquecesse minha caneta mascada –,
saberias que havia mais
um dia de felicidade,
antes que a água
voltasse a subir por mais um ano.
Referência:
STERN, Gerald. If you
saw me walking. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field
guide to reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest
& Harcout, 2001. p. 192.
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