Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Thomas Lovell Beddoes - Um Crocodilo

Este poema de Beddoes tem um certo matiz didático, pois nos faz lembrar das melhores lições de Biologia, sobre as relações entre seres vivos – no presente caso, entre um crocodilo e um pássaro: trata-se de protocooperação ou mutualismo, na medida em que ambos são beneficiados, o primeiro ao se livrar dos parasitas entre seus dentes, o segundo pela obtenção graciosa de alimento.

 

O cenário descrito atém-se às margens do Nilo, onde o mencionado crocodilo aparentemente descansa com as mandíbulas abertas, enquanto um filhote mantém-se em seu dorso, meio sonolento, tentando apanhar as moscas que o acossam  tudo, em suma, a despertar o imaginário selvático que se costuma associar ao continente africado.

 

J.A.R. – H.C.

 

Thomas Lovell Beddoes

por Rosalind Bliss

(1803-1849)

 

A Crocodile

 

Hard by the lilied Nile I saw

A duskish river-dragon stretched along,

The brown habergeon of his limbs enamelled

With sanguine almandines and rainy pearl:

And on his back there lay a young one sleeping,

No bigger than a mouse; with eyes like beads,

And a small fragment of its speckled egg

Remaining on its harmless, pulpy snout;

A thing to laugh at, as it gaped to catch

The baulking merry flies. In the iron jaws

Of the great devil-beast, like a pale soul

Fluttering in rocky hell, lightsomely flew

A snowy trochilus, with roseate beak

Tearing the hairy leeches from his throat.

 

Crocodilo

(Natalie Berman: pintora canadense)

 

Um Crocodilo

 

Rijo, à beira do Nilo carregado de lírios, vi

Um escuro dragão do rio estirado ao longo,

A couraça parda e esmaltada de seus membros

Com almandinas sanguíneas e pluviosas pérolas:

Em suas costas jazia um filhote dormindo,

Não maior que um rato; seus olhos como contas,

Com um pequeno fragmento de seu ovo mosqueado

Remanente no focinho, inofensivo e pulposo;

Algo para se rir, já que boquiaberto para apanhar

As lépidas e esquivas moscas. Nas maxilas férreas

Da grande besta diabólica, como uma pálida alma

A revolutear no inferno rochoso, voava desenvolto

Um níveo trochilus (*) a extrair-lhe com o bico rosado

As sanguessugas híspidas de suas fauces.

 

Nota:

 

(*). Trochilus: gênero de aves apodiformes pertencentes à família Trochilidae, que inclui os beija-flores.

 

Referência:

 

BEDDOES, Thomas Lovell. A crocodile. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 114-115.

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