Perder pernas, olhos
e sonhos retrata um cenário comum num terreno de batalha, cruel para os atingidos,
mas diante do qual o falante declina o seu mais insinuante sarcasmo, a pretexto
de que tais lesões são o de menos e há pessoas no mundo suficientemente gentis
para tratar os egressos da guerra com gentileza e reverência pelos préstimos à
pátria.
O fato é que a brutalidade
dos conflitos bélicos deixa marcas indeléveis na mente dos que nela se
envolvem, tumultuando-lhes a saúde mental: no caso específico, o poeta se
refere aos embates havidos na PGM, da qual participara pelas forças britânicas,
na frente ocidental, juntamente com o irmão mais novo, desventuradamente morto
na Campanha de Gallipoli.
J.A.R. – H.C.
Siegfried Sassoon
(1886-1967)
Does it matter?
Does it matter? – losing
your legs?...
For people will
always be kind,
And you need not show
that you mind
When the others come
in after hunting
To gobble their
muffins and eggs.
Does it matter? – losing
your sight?...
There’s such splendid
work for the blind;
And people will
always be kind,
As you sit on the
terrace remembering
And turning your face
to the light.
Do they matter? – those
dreams from the pit?...
You can drink and
forget and be glad,
And people won’t say
that you’re mad;
For they’ll know
you’ve fought for your country
And no one will worry
a bit.
Estudo de um corpo
mutilado
(Medellin Silva:
artista brasileiro)
Que falta faz?
Que falta faz? –
teres perdido as pernas?...
Todos te irão tratar
com simpatia
E não deves mostrar
que te angustia
Sentir que os outros
correm disputando
Seus lugares à mesa
das tabernas.
Que falta faz? –
teres perdido a vista?...
Aos cegos há trabalho
assegurado
E todos vão tratar-te
com cuidado
Quando virem teu
rosto que relembra
Voltado para a luz
que não avista.
Que falta faz? –
teres sonhado em vão?...
Podes beber: esquece
e alegra um pouco;
Ninguém há de pensar
que estejas louco.
Pois sabem que
lutaste pela pátria
E por isso jamais te
afligirão.
Referência:
SASSOON, Siegfried. Does it matter? / Que falta faz? Tradução de Ivo Barroso. In: BARROSO, Ivo (Organização e Tradução). O torso e o gato: o melhor da poesia universal. Prefácio de Antonio Houaiss. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1991. Em inglês: p. 140; em português: p. 141.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário