Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 18 de março de 2023

Hilda Hilst - Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia

Compondo o Canto I, de “Amavisse” (1989), esta seção sobranceiramente metalinguística relembra de certa forma o mito de Ícaro à procura de alturas, de ampla liberdade, de intérminas paragens, numa jornada criativa que é a do próprio “Pássaro-Poesia”, essa espécie que se congraça ao misterioso, ao incógnito, ao transcendente.

 

Em “fossos”, “extremos” – “pontos de convulsão do homem” –, a bem dizer, elementos de paramentação de “paisagens-limite”, espera a voz lírica caminhar de mãos dadas com o aludido pássaro, rumo aos horizontes do amanhã, pelo tempo que lhe permitir o seu sopro de fecundidade, de inventividade, de engenho imaginativo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hilda Hilst

(1930-2004)

 

Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia

 

Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia

Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível

Porque de barro e palha tem sido esta viagem

Que faço a sós comigo. Isenta de traçado

Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem

Hei de levar apenas a vertigem e a fé:

Para teu corpo de luz, dois fardos breves.

Deixarei palavras e cantigas. E movediças

Embaçadas vias de Ilusão.

Não cantei cotidianos. Só cantei a ti

Pássaro-Poesia

E a paisagem-limite: o fosso, o extremo

A convulsão do Homem.

 

Carrega-me contigo.

No Amanhã.

 

Em: “Amavisse” (1989)

 

Beija-flor de bico largo

(Amy Kirkpatrick: artista norte-americana)

 

Referência:

 

HILST, Hilda. Carrega-me contigo, pássaro-poesia. In: __________. Do desejo. São Paulo, SP: Globo, 2004. p. 42.

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