Os telhados a que se
refere o título deste poema diz respeito, mais diretamente, aos lares sob os
quais vivemos nossas vidas, ao abrigo das intempéries e em companhia de nossas
famílias e demais entes queridos: o sujeito lírico, mesmo sendo um amante de
viagens, não descuida de manter uma morada à qual possa retornar com segurança
e onde viva os seus mais acalentados momentos de privacidade.
Os errantes é que
permanecem nesse estado de “viagem” constante, escudados pelos céus como teto,
sem ter onde “pousar”, muito mais por necessidade do que por paixão em conhecer
outras paragens sobre a terra. Em casa, contudo, podemos nos aquecer junto à
lareira, por onde passa o ‘sopro’ anímico do convívio familiar, núcleo de um
lar que cada qual chama de “seu”.
J.A.R. – H.C.
Joyce Kilmer
(1886-1918)
Roofs
For Amelia Josephine
Burr
The road is wide and
the stars are out and the breath of the night is sweet,
And this is the time
when wanderlust should seize upon my feet.
But I’m glad to turn
from the open road and the starlight on my face,
And to leave the
splendour of out-of-doors for a human dwelling place.
I never have seen a
vagabond who really liked to roam
All up and down the
streets of the world and not to have a home:
The tramp who slept
in your barn last night and left at break of day
Will wander only
until he finds another place to stay.
A gypsy-man will
sleep in his cart with canvas overhead;
Or else he’ll go into
his tent when it is time for bed.
He’ll sit on the
grass and take his ease so long as the sun is high,
But when it is dark
he wants a roof to keep away the sky.
If you call a gypsy a
vagabond, I think you do him wrong,
For he never goes
a-travelling but he takes his home along.
And the only reason a
road is good, as every wanderer knows,
Is just because of
the homes, the homes, the homes to which it goes.
They say that life is
a highway and its milestones are the years,
And now and then
there’s a toll-gate where you buy your way with tears.
It’s a rough road and
a steep road and it stretches broad and far,
But at last it leads
to a golden Town where golden Houses are.
Os Telhados de Paris
(Vera Rockline:
pintora russa)
Telhados
Para Amelia Josephine
Burr
A estrada é larga, as
estrelas estão brilhando e a respiração da noite é suave,
E esse é o momento
quando a sede de viagens se apodera dos meus pés.
Mas estou feliz por
sair da estrada aberta e do brilho das estrelas no meu rosto,
E trocar o esplendor
do ar livre por um lugar habitado por humanos.
Jamais vi um
vagabundo que realmente gostasse de vagar
Para cima e para
baixo pelas ruas do mundo sem ter um lar:
O mendigo que dormiu
no celeiro a noite passada e saiu ao raiar do dia
Só continuará a vagar
até encontrar outro lugar para ficar.
Um cigano dormirá na
sua carroça com lona acima da cabeça;
Ou então entrará na
sua tenda quando for a hora de dormir.
Ficará sentado na
grama, à vontade, enquanto o sol estiver no alto,
Mas quando escurece
ele quer um teto para manter o céu afastado.
Se chamar o cigano de
vagabundo, acho que você está errado,
Porque ele jamais
viaja, mas leva a casa junto.
E a única razão pela
qual uma estrada é boa, como todos os vagabundos sabem,
É exatamente por
causa dos lares, dos lares, dos lares aonde leva.
Dizem que a vida é
uma estrela e que seus marcos são os anos,
E de vez em quando
aparece um pedágio onde você compra a sua passagem
com lágrimas.
É uma estrada difícil,
uma estrada íngreme que se prolonga extensa e distante,
Mas pelo menos ela se
dirige a uma Cidade dourada onde existem
Casas douradas.
Referências:
Em Inglês
KILMER, Joyce. Roofs.
In: __________. Main street and other poems. New York, NY: George H. Doran
Company, 1917. p. 16-17. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 fev.
2023.
Em Português
KILMER, Joyce. Telhados. Tradução de Roberto Argus. In: DYER, Wayne W. Muitos mestres: sabedoria de diferentes épocas para a vida diária. Tradução de Roberto Argus. Rio de Janeiro, RJ: Record; Nova Era, 2003. p. 223-224.
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