Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de março de 2023

Joyce Kilmer - Telhados

Os telhados a que se refere o título deste poema diz respeito, mais diretamente, aos lares sob os quais vivemos nossas vidas, ao abrigo das intempéries e em companhia de nossas famílias e demais entes queridos: o sujeito lírico, mesmo sendo um amante de viagens, não descuida de manter uma morada à qual possa retornar com segurança e onde viva os seus mais acalentados momentos de privacidade.

 

Os errantes é que permanecem nesse estado de “viagem” constante, escudados pelos céus como teto, sem ter onde “pousar”, muito mais por necessidade do que por paixão em conhecer outras paragens sobre a terra. Em casa, contudo, podemos nos aquecer junto à lareira, por onde passa o ‘sopro’ anímico do convívio familiar, núcleo de um lar que cada qual chama de “seu”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Joyce Kilmer

(1886-1918)

 

Roofs

 

For Amelia Josephine Burr

 

The road is wide and the stars are out and the breath of the night is sweet,

And this is the time when wanderlust should seize upon my feet.

But I’m glad to turn from the open road and the starlight on my face,

And to leave the splendour of out-of-doors for a human dwelling place.

 

I never have seen a vagabond who really liked to roam

All up and down the streets of the world and not to have a home:

The tramp who slept in your barn last night and left at break of day

Will wander only until he finds another place to stay.

 

A gypsy-man will sleep in his cart with canvas overhead;

Or else he’ll go into his tent when it is time for bed.

He’ll sit on the grass and take his ease so long as the sun is high,

But when it is dark he wants a roof to keep away the sky.

 

If you call a gypsy a vagabond, I think you do him wrong,

For he never goes a-travelling but he takes his home along.

And the only reason a road is good, as every wanderer knows,

Is just because of the homes, the homes, the homes to which it goes.

 

They say that life is a highway and its milestones are the years,

And now and then there’s a toll-gate where you buy your way with tears.

It’s a rough road and a steep road and it stretches broad and far,

But at last it leads to a golden Town where golden Houses are.

 

Os Telhados de Paris

(Vera Rockline: pintora russa)

 

Telhados

 

Para Amelia Josephine Burr

 

A estrada é larga, as estrelas estão brilhando e a respiração da noite é suave,

E esse é o momento quando a sede de viagens se apodera dos meus pés.

Mas estou feliz por sair da estrada aberta e do brilho das estrelas no meu rosto,

E trocar o esplendor do ar livre por um lugar habitado por humanos.

 

Jamais vi um vagabundo que realmente gostasse de vagar

Para cima e para baixo pelas ruas do mundo sem ter um lar:

O mendigo que dormiu no celeiro a noite passada e saiu ao raiar do dia

Só continuará a vagar até encontrar outro lugar para ficar.

 

Um cigano dormirá na sua carroça com lona acima da cabeça;

Ou então entrará na sua tenda quando for a hora de dormir.

Ficará sentado na grama, à vontade, enquanto o sol estiver no alto,

Mas quando escurece ele quer um teto para manter o céu afastado.

 

Se chamar o cigano de vagabundo, acho que você está errado,

Porque ele jamais viaja, mas leva a casa junto.

E a única razão pela qual uma estrada é boa, como todos os vagabundos sabem,

É exatamente por causa dos lares, dos lares, dos lares aonde leva.

 

Dizem que a vida é uma estrela e que seus marcos são os anos,

E de vez em quando aparece um pedágio onde você compra a sua passagem

com lágrimas.

É uma estrada difícil, uma estrada íngreme que se prolonga extensa e distante,

Mas pelo menos ela se dirige a uma Cidade dourada onde existem

Casas douradas.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

KILMER, Joyce. Roofs. In: __________. Main street and other poems. New York, NY: George H. Doran Company, 1917. p. 16-17. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 fev. 2023.

 

Em Português

 

KILMER, Joyce. Telhados. Tradução de Roberto Argus. In: DYER, Wayne W. Muitos mestres: sabedoria de diferentes épocas para a vida diária. Tradução de Roberto Argus. Rio de Janeiro, RJ: Record; Nova Era, 2003. p. 223-224.

 

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