Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de março de 2023

Charles Wright - Depois de Ler Tu Fu, Eu Saio e Vou Até o Pequeno Pomar

Inicialmente, à maneira de um poeta oriental, Wright descreve a natureza a partir de seu pequeno pomar, a estação de verão a tudo recobrir com o seu brilho e alarido, para, logo depois, encetar lucubrações sobre a sua própria vida, por volta dos 54 anos, mirante a partir do qual apreende o futuro como particularmente “sombrio”.

 

Percebe-se o autor como de “menor uso”, até para si mesmo, pulando de “um galho a outro”, denotando, desse modo, uma perspectiva utilitária para a vida, longe da qual presume-se frívola a experiência humana: sob tal cenário, cai a noite e parece-lhe sensato manter-se sereno diante da “confusão do mundo, do caos de todos os dias”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Wright

(n. 1935)

 

After Reading Tu Fu, I Go Outside to the Dwarf Orchard

 

East of me, west of me, full summer.

How deeper than elsewhere the dusk is in your own yard.

Birds fly back and forth across the lawn

looking for home

As night drifts up like a little boat.

 

Day after day, I become of less use to myself.

Like this mockingbird,

I flit from one thing to the next.

What do I have look forward to at fifty-four?

Tomorrow is dark.

Day-after-tomorrow is darker still.

 

The sky dogs are whimpering.

Fireflies are dragging the hush of evening

up from the damp grass.

Into the world’s tumult, into the chaos of every day,

Go quietly, quietly.

 

No Pomar

(Andrew Wyeth: pintor norte-americano)

 

Depois de Ler Tu Fu, Eu Saio e Vou Até o Pequeno Pomar

 

A leste de mim, a oeste de mim, pleno verão.

Quão mais profundo do que por aí está o crepúsculo

em seu próprio quintal.

Aves voam de um lado para o outro sobre o gramado

procurando um lar

Enquanto a noite vem derivando como um barquinho.

 

Dia após dia, eu tenho menos uso para mim mesmo.

Como este passarinho,

eu voo de um galho a outro.

O que esperar do futuro aos cinquenta e quatro?

O amanhã é sombrio.

O dia depois de amanhã é ainda mais sombrio.

 

Os cães do céu estão ganindo.

Vagalumes arrastam o silêncio da noite

por sobre a grama úmida.

Para dentro da confusão do mundo, do caos de todos os dias,

Vá sereno, sereno.

 

Referência:

 

WRIGTH, Charles. After reading Tu Fu, I go outside to the dwarf orchard / Depois de ler Tu Fu, eu saio e vou até o pequeno pomar. Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho: o jornal de literatura do Brasil. Curitiba (PR), n. 199, nov. 2016. Em inglês e em português: p. 31. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 mar. 2023.

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