Inicialmente, à
maneira de um poeta oriental, Wright descreve a natureza a partir de seu pequeno
pomar, a estação de verão a tudo recobrir com o seu brilho e alarido, para,
logo depois, encetar lucubrações sobre a sua própria vida, por volta dos 54
anos, mirante a partir do qual apreende o futuro como particularmente “sombrio”.
Percebe-se o autor
como de “menor uso”, até para si mesmo, pulando de “um galho a outro”, denotando,
desse modo, uma perspectiva utilitária para a vida, longe da qual presume-se frívola
a experiência humana: sob tal cenário, cai a noite e parece-lhe sensato manter-se sereno
diante da “confusão do mundo, do caos de todos os dias”.
J.A.R. – H.C.
Charles Wright
(n. 1935)
After Reading Tu Fu,
I Go Outside to the Dwarf Orchard
East of me, west of
me, full summer.
How deeper than
elsewhere the dusk is in your own yard.
Birds fly back and
forth across the lawn
looking for home
As night drifts up
like a little boat.
Day after day, I
become of less use to myself.
Like this
mockingbird,
I flit from one thing
to the next.
What do I have look
forward to at fifty-four?
Tomorrow is dark.
Day-after-tomorrow is
darker still.
The sky dogs are
whimpering.
Fireflies are
dragging the hush of evening
up from the damp
grass.
Into the world’s
tumult, into the chaos of every day,
Go quietly, quietly.
No Pomar
(Andrew Wyeth: pintor
norte-americano)
Depois de Ler Tu Fu, Eu Saio e Vou Até o Pequeno
Pomar
A leste de mim, a
oeste de mim, pleno verão.
Quão mais profundo do
que por aí está o crepúsculo
em seu próprio
quintal.
Aves voam de um lado
para o outro sobre o gramado
procurando um lar
Enquanto a noite vem
derivando como um barquinho.
Dia após dia, eu
tenho menos uso para mim mesmo.
Como este passarinho,
eu voo de um galho a
outro.
O que esperar do
futuro aos cinquenta e quatro?
O amanhã é sombrio.
O dia depois de
amanhã é ainda mais sombrio.
Os cães do céu estão
ganindo.
Vagalumes arrastam o
silêncio da noite
por sobre a grama
úmida.
Para dentro da
confusão do mundo, do caos de todos os dias,
Vá sereno, sereno.
Referência:
WRIGTH, Charles. After
reading Tu Fu, I go outside to the dwarf orchard / Depois de ler Tu Fu, eu saio
e vou até o pequeno pomar. Tradução de André Caramuru Aubert. In: Rascunho:
o jornal de literatura do Brasil. Curitiba (PR), n. 199, nov. 2016. Em inglês e
em português: p. 31. Disponível neste endereço. Acesso em: 3 mar.
2023.
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