Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 6 de março de 2023

Cruz e Sousa - O Assinalado

O poeta é o tema deste soneto do mestre simbolista, dirigido quer a um autor qualquer que se dedique ao fazer poético, quer ao próprio falante: às voltas com essa “loucura suprema” – que é a poesia –, vê-se ele enredado em sua “assinalada” missão, algemado a um mundo que lhe parece uma espécie de prisão.

 

Mas é dessa desventura que rebentam “estrelas de ternura”, belezas d’alma dos quais este mundo se mostra desprovido: não as misérias e amarguras que assolam a comum gente, senão o belo eterno que se deduz de uma natureza “prodigiosa e rica”! Vai poeta, segue a perseguir “os teus espasmos imortais de louco!”

 

J.A.R. – H.C.

 

Cruz e Sousa

(1861-1898)

 

O Assinalado

 

Tu és o louco da imortal loucura,

o louco da loucura mais suprema.

A Terra é sempre a tua negra algema,

Prende-te nela a extrema Desventura.

 

Mas essa mesma algema de amargura,

mas essa mesma Desventura extrema

faz que tu’alma suplicando gema

e rebente em estrelas de ternura.

 

Tu és o Poeta, o grande Assinalado

que povoas o mundo despovoado,

de belezas eternas, pouco a pouco...

 

Na Natureza prodigiosa e rica

toda a audácia dos nervos justifica

os teus espasmos imortais de louco!

 

Retrato do poeta Peter Hille

(Lovis Corinth: pintor alemão)

 

Referência:

 

SOUSA, Cruz e. O assinalado. In: BARBOSA, Frederico. Cinco séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 296.

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