Uma casa feito um
cavalo de carga, com sexo dúbio e inúmeros estômagos, inteligência élfica
superior, gentil e amigável, a ronronar feito um gato: com todas essas
metáforas, não se torna necessário tanto esforço para associá-las a cada um dos
cômodos que configuram uma morada – dormitórios, cozinha, sala de jantar, área
de serviço e alcovas, vale dizer, uma combinação de espaços de livre circulação
e outros privados, pulsantes, langorosos.
Uma casa, obviamente,
não é um ser vivo, mas acolhe tantas experiências dos que residem sobre o teto,
que suas paredes poderiam muito bem contar inumeráveis histórias, de amor e de
discórdia, de lutas e de repousos; que tudo quanto nela há, diz muito sobre o
modo de ser de seus inquilinos, suas preferências, pendores, vocações. Um “ser
vivo”, portanto!
J.A.R. – H.C.
Denise Levertov
(1923-1997)
What my House Would
Be Like if it Were a Person
This person would be
an animal.
This animal would be large,
at least as large
as a workhorse. It
would chew cud, like cows,
having several
stomachs.
No one could follow
it
into the dense brush
to witness
its mating habits.
Hidden by fur,
its sex would be hard
to determine.
Definitely it would
discourage
investigation. But it
would be, if not teased,
a kind, amiable
animal,
confiding as a
chickadee. Its intelligence
would be of a high
order,
neither human nor
animal, elvish.
And it would purr,
though of course,
it being a house, you
would sit in its lap,
not it in yours.
O diapasão de cetim
(Yves Tanguy: pintor
francês)
Como Seria a Minha
Casa se Fosse uma Pessoa
Essa pessoa seria um
animal.
E esse animal seria
grande, pelo menos tão grande
quanto um cavalo de
tração. Ruminaria, como as vacas,
tendo vários
estômagos.
Ninguém poderia
segui-lo
até o denso matagal
para presenciar
seus hábitos de
acasalamento. Oculto entre os pelos,
seu sexo seria
difícil de determinar.
Definitivamente, isso
desencorajaria
a investigação. Mas
seria, se não molestado,
um animal gentil e
amigável,
confiante como um
chapim. Sua inteligência
seria de ordem
superior,
nem humana nem
animal, mas élfica.
E ronronaria, embora,
é claro,
sendo uma casa, haverias
de sentar-te em seu colo,
e não o contrário.
Referência:
LEVERTOV, Denise.
What my house would be like if it were a person. In: __________. Poems:
1972-1982. New York, NY: New Directions, 2001. p. 154.
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