Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de março de 2023

Denise Levertov - Como Seria a Minha Casa se Fosse uma Pessoa

Uma casa feito um cavalo de carga, com sexo dúbio e inúmeros estômagos, inteligência élfica superior, gentil e amigável, a ronronar feito um gato: com todas essas metáforas, não se torna necessário tanto esforço para associá-las a cada um dos cômodos que configuram uma morada – dormitórios, cozinha, sala de jantar, área de serviço e alcovas, vale dizer, uma combinação de espaços de livre circulação e outros privados, pulsantes, langorosos.

 

Uma casa, obviamente, não é um ser vivo, mas acolhe tantas experiências dos que residem sobre o teto, que suas paredes poderiam muito bem contar inumeráveis histórias, de amor e de discórdia, de lutas e de repousos; que tudo quanto nela há, diz muito sobre o modo de ser de seus inquilinos, suas preferências, pendores, vocações. Um “ser vivo”, portanto!

 

J.A.R. – H.C.

 

Denise Levertov

(1923-1997)

 

What my House Would Be Like if it Were a Person

 

This person would be an animal.

This animal would be large, at least as large

as a workhorse. It would chew cud, like cows,

having several stomachs.

No one could follow it

into the dense brush to witness

its mating habits. Hidden by fur,

its sex would be hard to determine.

Definitely it would discourage

investigation. But it would be, if not teased,

a kind, amiable animal,

confiding as a chickadee. Its intelligence

would be of a high order,

neither human nor animal, elvish.

And it would purr, though of course,

it being a house, you would sit in its lap,

not it in yours.

 

O diapasão de cetim

(Yves Tanguy: pintor francês)

 

Como Seria a Minha Casa se Fosse uma Pessoa

 

Essa pessoa seria um animal.

E esse animal seria grande, pelo menos tão grande

quanto um cavalo de tração. Ruminaria, como as vacas,

tendo vários estômagos.

Ninguém poderia segui-lo

até o denso matagal para presenciar

seus hábitos de acasalamento. Oculto entre os pelos,

seu sexo seria difícil de determinar.

Definitivamente, isso desencorajaria

a investigação. Mas seria, se não molestado,

um animal gentil e amigável,

confiante como um chapim. Sua inteligência

seria de ordem superior,

nem humana nem animal, mas élfica.

E ronronaria, embora, é claro,

sendo uma casa, haverias de sentar-te em seu colo,

e não o contrário.

 

Referência:

 

LEVERTOV, Denise. What my house would be like if it were a person. In: __________. Poems: 1972-1982. New York, NY: New Directions, 2001. p. 154.

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