Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 19 de março de 2023

Czeslaw Milosz - Mestre do meu ofício

Citando fragmentos de “Liliowa dolina” (“Vale lilás”), pertencente à obra “Dionizje” (“Dionisíacos”), de 1922, de Jaroslaw Iwaszkiewicz (1894-1980) – a quem, em memória, o poema é dedicado –, Milosz enfatiza a linguagem do autor compatriota, marcada, de um lado, por cores, sons e olências, e de outro, pelo tema da morte, a obliterar até mesmo a prevalência do amor.

 

O título do poema lembrou-me de algum modo o de “In my craft or sullen art” (“Em Meu Ofício ou Sombria Arte”), do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953), muito embora apenas esparsamente, em relação ao desenvolvimento dos versos, possam ser associados.

 

Com efeito, nestas linhas, tem relevo a exortação de Milosz para que celebremos desde logo – “Agora” – o que, mais à frente, se configura como “inatingível”, em razão do “abismo” da morte: desse modo, segundo lhe parece, lograremos vencer “a tentação de nossa subserviência”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Czeslaw Milosz

(1911-2004)

 

Mistrz mego rzemiosła

 

Pamięci Jarosława Iwaszkiewicza

 

Czy w jego wierszach uwodziły mnie czyste kolory

czy też jego zakochanie w śmierci?

Bo niewątpliwie był zakochany w śmierci.

Ona była prawdą i treścią istnieniowej ułudy.

 

Ona zabiera

żowozłote wieże,

bladozielone marmury,

fioletowe niebiosa,

czerwone pasaże fletów.

 

Ona ucisza na zawsze krzyk miłosny:

 

W mgłach liliowych pogorzelisk,

Pośród ściernisk i szarości,

Jak plama pomarańczowa

Ognisty krzak twej nagości.

 

Teraz myślę, że w dionizyjskiej słodyczy umierania jest coś

nieskromnego.

 

Przemijanie ludzi i rzeczy nie jest jedyną tajemnicą czasu.

 

Który wzywa, żeby zwyciężać pokusę naszego poddaństwa.

 

I na samym brzegu otchłani ustawić stół, na nim szklankę,

dzban i dwa jabłka.

 

Żeby uświetniały niedosiężne Teraz.

 

(2002)

 

Torre dourada

(Marina Resimic: artista grega)

 

Mestre do meu ofício

 

À memória de Jaroslaw Iwaszkiewicz

 

Seus poemas me seduziam pelas cores puras

Ou por sua paixão pela morte?

Porque sem dúvida era apaixonado pela morte.

Era ela a verdade e o conteúdo da ilusão de existir.

 

Ela toma

o rosa dourado das torres,

o verde pálido dos mármores,

o violeta dos céus,

o vermelho das passagens das flautas.

 

Ela cala para sempre o grito do amor:

 

No nevoeiro lilás das cinzas,

Entre restolhos e grises,

Tal como nódoa alaranjada

A sarça ardente de tua nudez.

 

Agora vejo que na doçura dionisíaca de morrer há algo

de impudente.

 

A finitude de pessoas e coisas não é o único mistério do tempo.

 

Que desafia a vencermos a tentação de nossa subserviência.

 

E à beira mesma do abismo pôr a mesa, sobre ela o copo,

o cântaro e duas maçãs,

 

A fim de que celebrem o inatingível Agora.

 

(2002)

 

Referência:

 

MILOSZ, Czeslaw. Mistrz mego rzemiosła / Mestre do meu ofício. Tradução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. In: __________. Não mais. Seleção, tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. Brasília, DF: Editora da UnB, 2003. Em polonês: p. 124 e 126; em português: p. 125 e 127. (Coletânea ‘Poetas do Mundo’)

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