Citando fragmentos de
“Liliowa dolina” (“Vale lilás”), pertencente à obra “Dionizje” (“Dionisíacos”),
de 1922, de Jaroslaw Iwaszkiewicz (1894-1980) – a quem, em memória, o poema é
dedicado –, Milosz enfatiza a linguagem do autor compatriota, marcada, de um
lado, por cores, sons e olências, e de outro, pelo tema da morte, a obliterar até
mesmo a prevalência do amor.
O título do poema lembrou-me
de algum modo o de “In my craft or sullen art” (“Em Meu Ofício ou Sombria Arte”), do poeta galês Dylan
Thomas (1914-1953), muito embora apenas esparsamente, em relação ao
desenvolvimento dos versos, possam ser associados.
Com efeito, nestas
linhas, tem relevo a exortação de Milosz para que celebremos desde logo –
“Agora” – o que, mais à frente, se configura como “inatingível”, em razão do
“abismo” da morte: desse modo, segundo lhe parece, lograremos vencer “a
tentação de nossa subserviência”.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
Mistrz mego rzemiosła
Pamięci Jarosława Iwaszkiewicza
Czy w jego wierszach
uwodziły mnie czyste kolory
czy też jego zakochanie w śmierci?
Bo niewątpliwie był zakochany w śmierci.
Ona była prawdą i treścią istnieniowej ułudy.
Ona zabiera
różowozłote wieże,
bladozielone marmury,
fioletowe niebiosa,
czerwone pasaże fletów.
Ona ucisza na zawsze
krzyk miłosny:
W mgłach liliowych
pogorzelisk,
Pośród ściernisk i szarości,
Jak plama pomarańczowa
Ognisty krzak twej
nagości.
Teraz myślę, że w dionizyjskiej słodyczy umierania jest coś
nieskromnego.
Przemijanie ludzi i
rzeczy nie jest jedyną tajemnicą czasu.
Który wzywa, żeby zwyciężać pokusę naszego poddaństwa.
I na samym brzegu
otchłani ustawić stół, na nim szklankę,
dzban i dwa jabłka.
Żeby uświetniały niedosiężne Teraz.
(2002)
Torre dourada
(Marina Resimic: artista
grega)
Mestre do meu ofício
À memória de Jaroslaw
Iwaszkiewicz
Seus poemas me
seduziam pelas cores puras
Ou por sua paixão
pela morte?
Porque sem dúvida era
apaixonado pela morte.
Era ela a verdade e o
conteúdo da ilusão de existir.
Ela toma
o rosa dourado das
torres,
o verde pálido dos
mármores,
o violeta dos céus,
o vermelho das
passagens das flautas.
Ela cala para sempre
o grito do amor:
No nevoeiro lilás das
cinzas,
Entre restolhos e
grises,
Tal como nódoa
alaranjada
A sarça ardente de tua
nudez.
Agora vejo que na
doçura dionisíaca de morrer há algo
de impudente.
A finitude de pessoas
e coisas não é o único mistério do tempo.
Que desafia a
vencermos a tentação de nossa subserviência.
E à beira mesma do
abismo pôr a mesa, sobre ela o copo,
o cântaro e duas
maçãs,
A fim de que celebrem
o inatingível Agora.
(2002)
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. Mistrz
mego rzemiosła / Mestre do meu ofício. Tradução de Henryk Siewierski e Marcelo
Paiva de Souza. In: __________. Não mais. Seleção,
tradução e introdução de Henryk Siewierski e Marcelo Paiva de Souza. Brasília,
DF: Editora da UnB, 2003. Em polonês: p. 124 e 126; em português: p. 125 e
127. (Coletânea ‘Poetas do Mundo’)
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