Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 16 de março de 2023

Jorge Luis Borges - Os justos

Justos, para Borges, seriam os que, conforme Voltaire (1694-1778), cultivassem o próprio jardim, bem assim todos quantos descritos, em seus atos ou formas de ser, nos versos deste poema, os quais se equilibram no reino do desconhecido, mas que, por suas deliberações, gratulações e blandícia, “estão salvando o mundo”.

 

A música, a pintura, a literatura – poema e prosa –, a origem e a evolução das palavras, tudo quanto esteja no domínio do espírito criador e do desvelamento: tais são os recursos para que possamos transformar o mundo num território “concertado”, uma província do digno, do equânime, do oportuno, do virtuoso, do venturoso.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jorge Luis Borges

(1899-1986)

 

Los justos

 

Un hombre que cultiva su jardín, como quería Voltaire.

El que agradece que en la tierra haya música.

El que descubre con placer una etimología.

Dos empleados que en un café del Sur juegan un silencioso ajedrez.

El ceramista que premedita un color y una forma.

El tipógrafo que compone bien esta página, que tal vez no le agrada.

Una mujer y un hombre que leen los tercetos finales de cierto canto.

El que acaricia a un animal dormido.

El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho.

El que agradece que en la tierra haya Stevenson.

El que prefiere que los otros tengan razón.

Esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo.

 

En: “La cifra” (1981)

 

Os justos levados ao céu (detalhe)

(Michelangelo Buonarroti: artista italiano)

 

Os justos

 

Um homem que cultiva seu jardim, como queria Voltaire.

O que agradece que na terra exista música.

O que descobre com prazer uma etimologia.

Dois empregados que em um café do Sur jogam um silencioso xadrez.

O ceramista que premedita uma cor e uma forma.

O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.

Uma mulher e um homem que leem os tercetos finais de certo canto.

O que afaga um animal adormecido.

O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.

O que agradece que na terra exista Stevenson.

O que prefere que os outros estejam certos.

Essas pessoas, que se desconhecem, estão salvando o mundo.

 

Em: “A cifra” (1981)

 

Referência:

 

BORGES, Jorge Luis. Los justos / Os justos. Tradução de Josely Vianna Baptista. In: __________. Poesia. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009. Em espanhol: p. 600; em português: p. 346. (Biblioteca ‘Borges’)

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