Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 27 de março de 2023

Murilo Mendes - O poeta futuro

Numa elocução com tonalidades hieráticas, Murilo discorre sobre o “poeta futuro”, que já se encontraria em nosso meio, com espírito depurado, sereno, resultado da “síntese de todas as raças”, emergindo de veios epocais carregados de “luta” e de “negação”, para escrever “poemas consoladores” e indicar o caminho do “inferno” aos que promovem a guerra e “asfixiam órfãos e operários”.

 

Frente a esse olhar sobre o que deixará de ser e o que sobrevirá como padrão corrente, o poeta torna-se o arauto de um novo tempo, de virtude, paz e sabedoria, iluminado pelo sol interior; quase um sacerdote a manifestar a presença do sagrado em todas as coisas, cumprindo-lhe desvelar aos homens o sentido último do que seja o amor.

 

J.A.R. – H.C.

 

Murilo Mendes

(1901-1975)

 

O poeta futuro

 

O poeta futuro já se encontra no meio de vós.

Ele nasceu da terra

Preparada por gerações de sensuais e de místicos:

Surgiu do universo em crise, do massacre entre irmãos,

Encerrando no espírito épocas superpostas.

O homem sereno, a síntese de todas as raças,

o portador a vida

Sai de tanta luta e negação, e do sangue espremido.

 

O poeta futuro já vive no meio de vós

E não o pressentis.

Ele manifesta o equilíbrio de múltiplas direções

E não permitirá que algo se perca,

Não acabará de apagar o pavio que ainda fumega,

Transformando o aço de sua espada

Em penas que escreverão poemas consoladores.

 

O poeta futuro apontará o inferno

Aos geradores de guerra,

Aos que asfixiam órfãos e operários.

 

Em: “Metamorfoses” (1944)

 

O livro do poeta

(Miroslaw J. Kin: artista polonês)

 

Referência:

 

MENDES, Murilo. O poeta futuro. In: BRASIL, Assis (Organização, Introdução e Notas). A poesia mineira no século XX: antologia. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 47. (Coleção ‘Poesia Brasileira’)

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