Contemplação e
desconsolo são dois dos principais sentimentos que se transmitem por meio
destes versos, bem ao modo oriental: sentado sozinho, o
falante observa a noite de outono, tantas vezes associada à entrada do ser
humano no período do declínio de sua existência. É a estação das cãs, “impossível
de impedir”, tão inexequível de reversão quanto a hipótese de se criar ouro (assaz
perseguida pelos alquimistas).
O que fazer, então? O
ente lírico sugere que despertemos para o aprendizado das sutras budistas, ou por
outra, dediquemo-nos a um processo de iluminação zen. Afinal, todas as coisas são
efêmeras, nascem e morrem, os humanos entre elas – somente a natureza perdura
em seus ciclos –, motivo por que não devemos nos deixar capitular por um oceano
de amarguras.
J.A.R. – H.C.
Wang Wei
(699 d.C.-761 d.C)
秋夜独坐
独坐悲双鬓,空堂欲二更。
雨中山果落,灯下草虫鸣。
白发终难变,黄金不可成。
欲知除老病,唯有学无生。
Noite de outono
(Vladimir Lopatin: artista russo)
Sozinho na noite de
outono
Sentado, sozinho,
na sala vazia,
antes de soar
a segunda vigília,
lamento o branco
em minhas têmporas.
Na montanha, tombam
com a chuva as
frutas,
e os insetos zumbem
em volta da candeia.
Impossível impedir
o branco nos cabelos,
assim como criar
ouro:
como se livrar da
idade
e de seus incômodos?
Melhor começar logo
o estudo do não ser.
Referência:
WEI, Wang. 秋夜独坐 / Sozinho
na noite te outono. Tradução de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi. In: BAI, Li et
al. Poemas clássicos chineses: Li Bai, Du Fu e Wang Wei. Organização e
tradução de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi. Prefácio de Leonardo Fróes. Edição
bilíngue: chinês x português. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. Em chinês: p. 220; em
português: p. 221. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v. 1.048)
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