Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de novembro de 2022

Wang Wei - Sozinho na noite de outono

Contemplação e desconsolo são dois dos principais sentimentos que se transmitem por meio destes versos, bem ao modo oriental: sentado sozinho, o falante observa a noite de outono, tantas vezes associada à entrada do ser humano no período do declínio de sua existência. É a estação das cãs, “impossível de impedir”, tão inexequível de reversão quanto a hipótese de se criar ouro (assaz perseguida pelos alquimistas).

 

O que fazer, então? O ente lírico sugere que despertemos para o aprendizado das sutras budistas, ou por outra, dediquemo-nos a um processo de iluminação zen. Afinal, todas as coisas são efêmeras, nascem e morrem, os humanos entre elas – somente a natureza perdura em seus ciclos –, motivo por que não devemos nos deixar capitular por um oceano de amarguras.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wang Wei

(699 d.C.-761 d.C)

 

秋夜独坐

 

独坐悲双鬓,空堂欲二更。

雨中山果落,灯下草虫鸣。

发终难变,黄金不可成。

欲知除老病,唯有学无生

 

Noite de outono

(Vladimir Lopatin: artista russo)

 

Sozinho na noite de outono

 

Sentado, sozinho,

na sala vazia,

antes de soar

a segunda vigília,

lamento o branco

em minhas têmporas.

Na montanha, tombam

com a chuva as frutas,

e os insetos zumbem

em volta da candeia.

Impossível impedir

o branco nos cabelos,

assim como criar ouro:

como se livrar da idade

e de seus incômodos?

Melhor começar logo

o estudo do não ser.

 

Referência:

 

WEI, Wang. 秋夜独坐 / Sozinho na noite te outono. Tradução de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi. In: BAI, Li et al. Poemas clássicos chineses: Li Bai, Du Fu e Wang Wei. Organização e tradução de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi. Prefácio de Leonardo Fróes. Edição bilíngue: chinês x português. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. Em chinês: p. 220; em português: p. 221. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v. 1.048)

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