Neste poema, Tagore
exorta as mentes religiosas a transporem as paredes dos santuários, onde se
encontram em rituais ascéticos, para virem a deparar com o Deus vivo noutras
paragens, ou seja, junto aos humildes e oprimidos – como lavradores e
construtores de vias –, pois que o infinito se expressa por meio do finito e o
divino é também encontrado no humano.
Há um certo eco de
Romanos 2:6-8 nos dizeres do polímata bengali, quando ali se anuncia que Deus
haverá de compensar cada um de acordo com as suas obras, o que nos leva a
deduzir que somente quando se funde a vida de ação, de serviço à humanidade, à vida
de contemplação é que se poderá alcançar a plenitude do ser espiritual.
J.A.R. – H.C.
Rabindranath Tagore
(1861-1941)
11. Deixa esse
rosário de salmo e cânticos e palavras!
Deixa esse rosário de
salmos e cânticos e palavras! Quem cuidas tu que estás venerando nesse
recôndito solitário e escuro de um templo de portas fechadas? Abre os olhos e
vê que não está diante de ti o teu Deus!
Ele está lá onde está
o lavrador lavrando a terra dura e onde está quebrando pedras aquele que abre
os caminhos. Está com eles ao sol e à chuva, e as suas vestes estão cheias de
pó. Tira o teu manto religioso e desce também como ele para o chão poeirento!
Libertação! Onde
encontrar essa libertação? Nosso mestre tomou a si mesmo, cheio de alegria,
todos os encargos da criação; ele está ligado a todos nós para sempre.
Sai das tuas
meditações e deixa de lado as tuas flores e o teu incenso! Que mal faz que se
esfarrapem e manchem as tuas vestes? Procura-o e fica com ele na lida e no suor
da tua fronte.
Refeição no campo
(Vsevolod M. Petrov-Maslakov:
pintor russo)
Referência:
TAGORE, Rabindranath.
Deixa esse rosário de salmos e cânticos e palavras! Tradução de Guilherme de
Almeida. In: __________. Gitanjali. Texto integral. Tradução de
Guilherme de Almeida. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006. p. 34-35. (Coleção ‘A
obra-prima de cada autor’; v. 207)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário