Na biblioteca divina
não existem pilhas e pilhas de livros como seria de se esperar, senão apenas
dez ou doze: neles há o registro de todo um processo que resulta de exercícios
de ideação, como se jovens houvessem retratado em desenhos tudo o quanto há na natureza,
melhor dizendo, na realidade, dando raias soltas à sua inventividade – pois
quando se é jovem não se costuma ficar limitado à “caixinha”.
É como o próprio
poeta em seu afã de capturar sugestões não circunscritas pelos sentidos
imediatos – indo bem além nessa cartografia não previamente demarcada, plena de
incógnitas –, para convertê-las em poemas, um ato fértil, de mineração da
linguagem, num campo de conotações, de metáforas, de paráfrases, tudo para ver
seu próprio nome – e reconhecê-lo – numa nota de rodapé que seja, em um dos “Livros
da Criação”.
J.A.R. – H.C.
Jeffrey Skinner
(n. 1949)
The Bookshelf of the
God of Infinite Space
You would expect an
uncountable number,
Acres and acres of
books in rows
Like wheat or gold
bullion. Or that the words just
Appear in the mind,
like banner headlines.
In fact there is one
shelf
Holding a modest number,
ten or twelve volumes.
No dust jackets,
because – no dust.
Covers made of gold
or skin
Or golden skin, or
creosote or rain-
Soaked macadam, or
some
Mix of salt &
glass. You turn a page
& mountains rise,
clouds drawn by children
Bubble in the sky,
you are twenty
Again, trying to read
a map
Dissolving in your
hands. I say You & mean
Me, say God &
mean Librarian – who after long research
Offers you a glass of
water and an apple –
You, grateful to
discover your name,
A footnote in that
book.
Sem título
(Jonathan
Wolstenholme: artista inglês)
A Estante de Deus do
Espaço Infinito
Esperarias um número
incontável,
Acres e acres de
livros em fileiras
Como trigo ou barras
de ouro. Ou que as palavras
Simplesmente aparecessem
na mente, como chamadas
de letreiros.
De fato, há uma
prateleira
Com um número modesto,
dez ou doze volumes.
Sem sobrecapas,
porque – sem poeira.
Capas feitas de ouro
ou película
Ou de película
dourada, ou creosoto ou macadame
Embebido em chuva, ou
alguma
Mescla de sal &
vidro. Viras uma página
& montanhas se
elevam, nuvens desenhadas por crianças
Borbulham no céu, voltas
a ter
Vinte anos, em meio
ao intento de ler um mapa
Que se dissolve em
tuas mãos. Digo Tu & refiro-me a
Mim, digo Deus & refiro-me
ao Bibliotecário – que,
depois de uma longa pesquisa,
Oferece-te um copo
d’água e uma maçã –
Tu, grato por
descobrir teu nome,
Uma nota de rodapé
nesse livro.
Referência:
SKINNER, Jeffrey. the
bookshelf of the god of infinite space. Poetry Magazine: a publication
of the Poetry Foundation. Chicago, IL: vol. 207, n. 3, dec. 2015, p. 230.
Disponível neste endereço. Acesso em: 30 out.
2022.
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