Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Jeffrey Skinner - A Estante de Deus do Espaço Infinito

Na biblioteca divina não existem pilhas e pilhas de livros como seria de se esperar, senão apenas dez ou doze: neles há o registro de todo um processo que resulta de exercícios de ideação, como se jovens houvessem retratado em desenhos tudo o quanto há na natureza, melhor dizendo, na realidade, dando raias soltas à sua inventividade – pois quando se é jovem não se costuma ficar limitado à “caixinha”.

 

É como o próprio poeta em seu afã de capturar sugestões não circunscritas pelos sentidos imediatos – indo bem além nessa cartografia não previamente demarcada, plena de incógnitas –, para convertê-las em poemas, um ato fértil, de mineração da linguagem, num campo de conotações, de metáforas, de paráfrases, tudo para ver seu próprio nome – e reconhecê-lo – numa nota de rodapé que seja, em um dos “Livros da Criação”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jeffrey Skinner

(n. 1949)

 

The Bookshelf of the God of Infinite Space

 

You would expect an uncountable number,

Acres and acres of books in rows

Like wheat or gold bullion. Or that the words just

Appear in the mind, like banner headlines.

In fact there is one shelf

Holding a modest number, ten or twelve volumes.

No dust jackets, because – no dust.

Covers made of gold or skin

Or golden skin, or creosote or rain-

Soaked macadam, or some

Mix of salt & glass. You turn a page

& mountains rise, clouds drawn by children

Bubble in the sky, you are twenty

Again, trying to read a map

Dissolving in your hands. I say You & mean

Me, say God & mean Librarian – who after long research

Offers you a glass of water and an apple –

You, grateful to discover your name,

A footnote in that book.

 

Sem título

(Jonathan Wolstenholme: artista inglês)

 

A Estante de Deus do Espaço Infinito

 

Esperarias um número incontável,

Acres e acres de livros em fileiras

Como trigo ou barras de ouro. Ou que as palavras

Simplesmente aparecessem na mente, como chamadas

de letreiros.

De fato, há uma prateleira

Com um número modesto, dez ou doze volumes.

Sem sobrecapas, porque – sem poeira.

Capas feitas de ouro ou película

Ou de película dourada, ou creosoto ou macadame

Embebido em chuva, ou alguma

Mescla de sal & vidro. Viras uma página

& montanhas se elevam, nuvens desenhadas por crianças

Borbulham no céu, voltas a ter

Vinte anos, em meio ao intento de ler um mapa

Que se dissolve em tuas mãos. Digo Tu & refiro-me a

Mim, digo Deus & refiro-me ao Bibliotecário – que,

depois de uma longa pesquisa,

Oferece-te um copo d’água e uma maçã –

Tu, grato por descobrir teu nome,

Uma nota de rodapé nesse livro.

 

Referência:

 

SKINNER, Jeffrey. the bookshelf of the god of infinite space. Poetry Magazine: a publication of the Poetry Foundation. Chicago, IL: vol. 207, n. 3, dec. 2015, p. 230. Disponível neste endereço. Acesso em: 30 out. 2022.

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