Como se estivesse a
contemplar o mar e um menino, a cena descrita pelo ente lírico, algo funesta, menciona
uma lua envolta em bruma e folhas mortas com tom sanguíneo: no plano dos fatos,
fica-se sabendo que uma criança foi morta e o mar se compraz em gratular-se por
ter vencido a luta que então empreendera.
Enquanto “canção de
ninar” entoada pelo mar, fica-se meio surpreso, talvez perplexo, com o que
sucede no avançar das linhas do poema, lídima fábula de advertência aos aldeões:
o mar surge personificado por uma figura feminina e, menos que um sinistro acidente
por afogamento, a percepção evocada ao falante é a de um “assassinato”
perpetrado pelo oceano.
J.A.R. – H.C.
Elinor Wylie
(1885-1928)
Sea Lullaby
The old moon is
tarnished
With smoke of the
flood,
The dead leaves are
varnished
With colour like
blood,
A treacherous smiler
With teeth white as
milk,
A savage beguiler
In sheathings of
silk,
The sea creeps to
pillage,
She leaps on her
prey;
A child of the
village
Was murdered today.
She came up to meet
him
In a smooth golden
cloak,
She choked him and
beat him
To death, for a joke.
Her bright locks were
tangled,
She shouted for joy,
With one hand she
strangled
A strong little boy.
Now in silence she
lingers
Beside him all night
To wash her long
fingers
In silvery light.
O afogado sendo
carregado até a costa
(Laurits R. Tuxen:
pintor dinamarquês)
O mar-rouxinol
A lua recorta-se
Em fumos marinhos;
Luz nas folhas mortas
Tom quase sanguíneo;
Traidor, maneiroso,
Com dentes de leite
Cruel e enganoso
Com sedas e enfeites,
Sabe o mar pilhar
Em salto ferino;
Veio hoje matar
Na aldeia um menino
A ele ascendeu
Em seu manto brando,
Sufocou, bateu,
Matou-o brincando.
Cabelos dançavam,
Gritou de alegria;
A mão enforcava
Quem antes vivia.
A noite, em segredo,
Repousa a seu lado
Enxugando os dedos
No luar prateado.
Referência:
WYLIE, Elinor. Sea
lullaby / O mar-rouxinol. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia
Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas:
vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de
Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 64; em português: p. 65.
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