Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Elinor Wylie - O mar-rouxinol

Como se estivesse a contemplar o mar e um menino, a cena descrita pelo ente lírico, algo funesta, menciona uma lua envolta em bruma e folhas mortas com tom sanguíneo: no plano dos fatos, fica-se sabendo que uma criança foi morta e o mar se compraz em gratular-se por ter vencido a luta que então empreendera.

 

Enquanto “canção de ninar” entoada pelo mar, fica-se meio surpreso, talvez perplexo, com o que sucede no avançar das linhas do poema, lídima fábula de advertência aos aldeões: o mar surge personificado por uma figura feminina e, menos que um sinistro acidente por afogamento, a percepção evocada ao falante é a de um “assassinato” perpetrado pelo oceano.

 

J.A.R. – H.C.

 

Elinor Wylie

(1885-1928)

 

Sea Lullaby

 

The old moon is tarnished

With smoke of the flood,

The dead leaves are varnished

With colour like blood,

 

A treacherous smiler

With teeth white as milk,

A savage beguiler

In sheathings of silk,

 

The sea creeps to pillage,

She leaps on her prey;

A child of the village

Was murdered today.

 

She came up to meet him

In a smooth golden cloak,

She choked him and beat him

To death, for a joke.

 

Her bright locks were tangled,

She shouted for joy,

With one hand she strangled

A strong little boy.

 

Now in silence she lingers

Beside him all night

To wash her long fingers

In silvery light.

 

O afogado sendo carregado até a costa

(Laurits R. Tuxen: pintor dinamarquês)

 

O mar-rouxinol

 

A lua recorta-se

Em fumos marinhos;

Luz nas folhas mortas

Tom quase sanguíneo;

 

Traidor, maneiroso,

Com dentes de leite

Cruel e enganoso

Com sedas e enfeites,

 

Sabe o mar pilhar

Em salto ferino;

Veio hoje matar

Na aldeia um menino

 

A ele ascendeu

Em seu manto brando,

Sufocou, bateu,

Matou-o brincando.

 

Cabelos dançavam,

Gritou de alegria;

A mão enforcava

Quem antes vivia.

 

A noite, em segredo,

Repousa a seu lado

Enxugando os dedos

No luar prateado.

 

Referência:

 

WYLIE, Elinor. Sea lullaby / O mar-rouxinol. Tradução de Jorge Wanderley. In: WANDERLEY, Márcia Cavendish; FIALHO, Carlos Eduardo; CAVENDISH, Sueli (Orgs.). Do jeito delas: vozes femininas de língua inglesa. Traduções de Jorge Wanderley. Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2008. Em inglês: p. 64; em português: p. 65.

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